SEJAM BEM-VINDOS!

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Filha de jornalista, foca e apaixonada pela profissão que escolhi. Criei este blog com o intuito de publicar os textos confecionados por mim durante o meu curso na faculdade. Fiquem à vontade para deixar sugestões, críticas e elogios!

quinta-feira, 9 de julho de 2009

EXERCÍCIO JORNALISMO ECONÔMICO - NOTA QUEDA TAXA SELIC

* Texto confeccionado em 25 de Maio de 2009.

O Banco Central divulgou hoje o resultado da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) onde reduzia a Selic, a taxa de juros básica da economia, para 10,25% ao ano, sem viés. O corte de 1% levou a Selic ao menor patamar registrado desde a criação do Copom em 1996.

Com a queda, os economistas preveêm que o processo de redução da taxa básica de juros, que já caiu 3,5% desde Janeiro, pode estar se aproximando do fim. A expectativa é que os juros não caiam para menos que 9,25% ao ano.

Apesar da taxa histórica, Armando Monteiro Neto, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) afirmou que " a diminuição ficou aquém das expectativas." Segundo ele, o atual ciclo recessivo da economia exige um corte mais substancial da Selic, levando em consideração que a inflação se encontra em trajetória decadente. Abram Szajman, presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP), reforçou a visão do presidente da CNI alegando que "o Copom deveria ter sido mais ousado".

Ps: Coloquei essa nota aqui depois que um amigo me deu um toque sobre um fato muito interessante: quase nunca vemos estudantes de jornalismo escrevendo sobre economia. Nem mesmo profissionais formados ou com enorme capacitação profissional enxergam a economia como um assunto a ser abordado e que vá gerar interesse, a não ser por empresários e profissionais da área. Há de se pensar que muita coisa poderia ser resolvida no brasil se o jargão econômico fosse menos utilizado e uma linguagem simples e direta pudesse trazer para perto do cidadão comum as questões econômicas. Com certeza é preciso desmitificar um pouco a linguagem econômica, pois realmente há uma carência de bons blogs e pessoas que escrevam de maneira clara sobre mercado financeiro, bolsa de valores, fundos de investimento e rendimento e etc... Mas infelizmente, eu AINDA não possuo competência para tanto!

segunda-feira, 29 de junho de 2009

O MITO DA DEMOCRACIA RACIAL E A FÁBULA DAS TRÊS RAÇAS


* Texto confeccionado em 03 de Junho de 2009.

A expressão “democracia racial”, segundo Guimarães, estudioso do assunto, teria surgido em discursos intelectuais da década de 30. O termo foi oficialmente empregado pela primeira vez por Arthur Ramos, em 1941, durante um seminário de discussão sobre a democracia no mundo pós-fascista, mas é apenas nos anos 50 que a crença na democracia racial tornou-se consenso. Na década seguinte, esta crença atingiu seu ápice, designando um ideal de igualdade e respeito que foi incorporado à fala de intelectuais e universitários por todo o Brasil, como uma cura para o trauma da escravidão negra.

Paradoxalmente aos altos índices que apontam as desigualdades raciais existentes no país atualmente, a disseminação e a aceitação da democracia racial foi utilizada até mesmo pelo movimento negro na década de 40 e transformada em uma doutrina, a servir de lição e modelo para outros povos.

No Brasil, nunca houve uma segregação legalizada entre brancos e negros, como já ocorreu nos EUA e na África do Sul. Além disso, o nível de miscigenação é tão grande no país, que estima-se que 86% da população carregue pelo menos 10% de DNA africano. O fato é que, esses e outros fatores, levaram as pessoas a mitificar o Brasil como sendo um paraíso racial.

Desde o primeiro encontro entre o colonizador português, o escravo africano e o nativo indígena, a fábula das três raças é contada de geração a geração, propagando o fato de que o povo brasileiro é resultante da mistura entre brancos, negros e índios. Essa idéia traz em sua essência a crença de que o Brasil, fruto desta mistura, é um lugar onde as relações ocorrem de forma harmônica e pacífica, em um verdadeiro éden de respeito racial e humano.

Outros autores também apontam para a tese do “branqueamento” da população brasileira como catalisador da idéia do mito. Segundo essa tese, a partir da mistura da raça branca (superior) e da raça negra (inferior), haveria um melhoramento da genética dos brasileiros. Este ideal de branqueamento foi incutido na sociedade brasileira ao longo de toda sua história, de tal maneira, que levou o próprio negro à sua autonegação, levando a uma fragmentação das identidades raciais no país.

Positivo ou não, o fato é que essa situação possibilitou às elites brasileiras, que comandavam o país, difundir a idéia de que o Brasil era livre de preconceitos e discriminação racial. As circunstâncias histórico-sociais apontadas fizeram com que esse mito manipulasse os mecanismos sociais através da defesa dissimulada de atitudes, comportamentos e ideais aristocráticos da raça “dominante”.

O mito da democracia racial possibilitou que uma das formas mais perversas de racismo se propagasse no Brasil, aquela mascarada pelo status democrático, cuja aceitação e compreensão das diferenças não passam de pura dissimulação.

Alguns estudiosos apontam que este mito teria sido um dos mecanismos de dominação ideológica mais poderosos produzidos no país, tanto que, apesar de toda a crítica que a ele foi feita, o mito permanece bem atual.

Para Florestan Fernandes, os mitos nascem para tentar mascarar uma realidade e acabam por revelar a realidade íntima de uma dada sociedade. Dados estatísticos apresentados por instituições de renome, como o IBGE e o IPEA, não deixam dúvidas sobre a gravidade da situação vivenciada pela polução negra e indígena no Brasil.

É preciso que, mais que um mecanismo cínico e cruel de manutenção das desigualdades sócio-econômicas, o mito da democracia racial sirva como ideal para transformações profundas em nossa sociedade, visando diminuir a distância entre os discursos igualitários e a sua prática. Mais que isso, é preciso que se pare de falar em democracia racial, para falarmos tão somente em democracia, que inclui a todos sem menção de raças. Porque indicar incessantemente um modelo do que deveria ser, se mais fácil é apontarmos o que não deveria existir – o racismo?

Bibliografia:

FERNANDES, Florestan, O Mito Revelado, art. Publicado em Folhetim de São Paulo, 1980, reeditado na Revista Espaço Acadêmico Ano II nº 26 – 2003.
GUIMARÃES, Antonio Sérgio. Classes, raças e democracia. São Paulo: Editora 34, 2002.
DA MATA, Roberto – “A Fábula das 3 Raças ...” in Relativizando. RJ, Rocco, 1987.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

FIM DA OBRIGATORIEDADE DO DIPLOMA DE JORNALISMO: SERÁ QUE FOI A ESCOLHA CERTA?

*Texto publicado no blog do Leandro Fortes, aqui.

"O fim da obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo é uma derrota para a sociedade brasileira, não esta que discute alegremente conceitos de liberdade de expressão e acredita nas flores vencendo o canhão, mas outra, excluída da discussão sobre os valores e os defeitos da chamada “grande imprensa”. São os milhões de brasileiros informados por esquemas regionais de imprensa, aí incluídos jornais, rádios, emissoras de TV e sites de muitas das capitais brasileiras, cujo único controle de qualidade nas redações era exercido pela necessidade do diploma e a vigilância nem sempre eficiente, mas necessária, dos sindicatos sobre o cumprimento desse requisito.

Tenho ouvido, há anos, como continuei ouvindo, hoje, quando o STF decidiu por oito votos a um acabar com a obrigatoriedade do diploma, essa lengalenga interminável sobre os riscos que a liberdade de expressão sofria com a restrição legal a candidatos a jornalistas sem formação acadêmica específica. Esse discurso enviesado de paixão patronal, adulado aqui e ali por jornalistas dispostos a se sintonizar com os sempre citados países do Primeiro Mundo que não exigem diploma, gerou uma percepção falaciosa, para dizer o mínimo, de que para ser jornalista basta apenas ter jeito para a coisa, saber escrever, ser comunicativo ou, como citou um desses ministros do STF, “ter olho clínico”. Foi baseado nesse amontoado de bobagens, dentro de uma anti-percepção da realidade do ofício, que se votou contra o diploma no Supremo.

Conheço e respeito alguns (poucos) jornalistas, excelentes jornalistas, que sempre defenderam o fim do diploma, e não porque foram cooptados pelo patronato, mas por se fixarem em bons exemplos e na própria e bem sucedida experiência. São jornalistas de outros tempos, de outras redações, de outra e mais complexa realidade brasileira, mais rica, em vários sentidos, de substância política e social. Não é o que vivemos hoje. Não por acaso, e em tom de deboche calculado, o ministro Gilmar Mendes, que processa jornalistas que o criticam e crê numa imprensa controlada, comparou jornalistas a cozinheiros e costureiros ao declarar seu voto pelo fim da obrigatoriedade do diploma. É uma maneira marota de comemorar o fim da influência dos meios acadêmicos de esquerda, historicamente abrigados nas faculdades de jornalismo, na formação dos repórteres brasileiros.

Sem precisar buscar jornalistas formados, os donos dos meios de comunicação terão uma farta pescaria em mar aberto. Muito da deficiência dessa discussão vem do fato de que ela foi feita sempre pelo olhar da mídia graúda, dos jornalões, dos barões da imprensa e de seus porta-vozes bem remunerados. Eu, que venho de redações pequenas e mal amanhadas da Bahia, fico imaginando como é que essa resolução vai repercutir nas redações dos pequenos jornais do interior do Brasil, estes já contaminados até a medula pelos poderes políticos locais. Arrisco um palpite: serão infestados por jagunços, capangas, cabos eleitorais e familiares.

O fim da obrigatoriedade do diploma vai, também, potencializar um fenômeno que já provoca um estrago razoável na composição das redações dos grandes veículos de comunicação: a proliferação e a expansão desses cursinhos de trainee, fábricas de monstrinhos competitivos e doutrinados para fazer tudo-o-que-seu-mestre-mandar. Ao invés de termos viabilizado a melhoria dos cursos de jornalismo, de termos criado condições para que os grandes jornalistas brasileiros se animassem a dar aulas para os jovens aspirantes a repórteres, chegamos a esse abismo no fundo do qual se comemora uma derrota.

De minha parte, acho uma pena."

CONCORDO EM GÊNERO, NÚMERO E GRAU. É UMA PENA, ENORME. TRISTE.

domingo, 14 de junho de 2009

EXERCÍCIO OBITUÁRIO - MADONNA

* Texto confeccionado em 20 de Maio de 2009, com cunho acadêmico e visando o exercício da produção de um obituário. Madonna, felizmente, se encontra mais viva do que nunca!

MAJESTADE DO POP DEIXA SEU TRONO

Madonna Louise Ciccone, cantora, atriz, produtora cinematográfica, compositora, dançarina, escritora e produtora musical, morreu hoje, aos 50 anos, de parada cardiorespiratória. A assessoria de Madonna relatou que a diva do pop se exercitava quando subitamente passou mal, teve convulsões e foi levada ao hospital hospital UCLA Medical Center localizado na Califórnia, com uma grave arritmia.

Filha de descendentes italianos, Madonna nasceu em 16 de Agosto de 1958, em Michigan. Leonina, polêmica e de personalidade controversa, a artista com mais de 20 anos de carreira sólida recebeu o mesmo nome da mãe, que morrera de câncer quando Madonna tinha apenas cinco anos de idade.

A rainha do pop declarou em seu documentário - “Truth or Dare: In Bed With Madonna” – que não estava interessada em ser a melhor cantora ou a melhor dançarina, mas em acionar um botão provocativo e político nas pessoas. Madonna sempre colocou em evidência questões polêmicas, questionando (pré) conceitos e deixando inúmeras discípulas que tentam, em vão, dominar uma arte que há décadas Madonna vinha exercendo com maestria: a arte de chocar.

Ainda na adolescência, Madonna iniciou seus primeiros passos na dança, contrariando a vontade do pai, que queria que a filha estudasse piano. Sexualmente curiosa, perdeu a virgindade aos 15 anos com Russel Long, possivelmente no Cadillac 1966 azul que o namoradinho de colégio possuía. Na mesma época, Madonna também teve experiências homossexuais, e, mais tarde, quando já morava sozinha em Detroit para estudar dança, não hesitou em trabalhar como garçonete e fazer ensaios nus para se sustentar. O viés sexual de Madonna sempre foi uma de suas características mais marcantes como popstar.

Em 1979, aos 21 anos, a artista conquistou uma bolsa integral para estudar dança na Universidade de Michigan. Ainda no mesmo ano acompanhou o cantor Patrick Hernandez como bailarina e backvocal, atuando em seu primeiro filme, “A Certain Sacrifice”, pornô pelo qual recebeu cem dólares. De fato, um sacrifício, para quem 30 anos mais tarde teria um patrimônio avaliado em cerca de U$ 1 bilhão.

Em 1983, Madonna lançava seu primeiro álbum, fazendo grande sucesso com músicas como “Holiday” e “Lucky Star”. Um ano mais tarde, depois de ter lançado o segundo álbum, “Like a Virgin”, a jovem cantora participou da primeira cerimônia do MTV Vídeo Music Awards, em Nova Iorque. Na ocasião, ao som da música que dava título ao álbum, de bustiê branco, saia de tule e véu, Madonna se contorcia em posições sexuais no topo de um gigantesco bolo de noiva.

Billy Steinberg, co-autor da canção, ficara atordoado, juntamente com o público presente e a apresentadora Bete Middler. Surpreendentemente, as linhas telefônicas da emissora ficaram congestionadas. Billy posteriormente afirmou que “quando uma coisa espontânea, forte e verdadeira como aquela aparece, as pessoas simplesmente adoram”. O co-autor da música da estrela parecia estar certo. O fato é que partir daí a fama de Madonna tornou-se definitiva e seu segundo álbum vendeu mais de 8 milhões de cópias, transformando a artista em ícone para os adolescentes, que começaram a imitar seu visual.

Franca, Madonna flertava abertamente, sendo por isso diversas vezes rotulada como uma mulher vulgar. Mesmo afirmando que só dormia com namorados estáveis e que nunca foi promíscua, a popstar não escapou de um questionamento muito comum durante sua carreira: Seria Madonna prostituta em busca de publicidade, que cantava uma música pop medíocre ou uma artista inteligente e inovadora, que caía no gosto das massas com a mesma velocidade e intensidade com que era criticada?

Durante as gravações do clipe da música “Material Girl”, em 1984, Madonna conheceu seu primeiro marido, Sean Peann, de quem se separou quatro anos depois alegando “diferenças irreconciliáveis”. No mesmo ano do divórcio, a estrela lançou seu famoso álbum “Like a Prayer”, que gerou imensa polêmica juntamente ao clipe da música que dava título ao disco.

No vídeo em questão, Madonna aparecia entre cruzes em chamas e beijando Jesus, que era representado por um homem negro. A obra foi banida pelo Vaticano e um de seus shows foi cancelado na Itália em razão do boicote proposto pelo Papa João Paulo II, acarretando à estrela a perda de um contrato importante com a Pepsi. Mesmo acusada de herege, Madonna sempre seguiu um ritual de oração antes de cada apresentação desde sua primeira turnê.

Um ano depois, ganhou o Oscar de melhor canção por “Sooner or Later”, trilha do filme “Dick Tracy” em que atuava. Na ocasião da premiação Madonna chegou caracterizada de Marilyn Monroe ao lado de Michael Jackson. Na mesma época, a turnê “Blond Ambition” intensificou ainda mais o sucesso da popstar, que logo lançou seu debatido documentário “Na cama com Madonna”. Na obra, além de bastidores de sua turnê, Madonna aparece em cenas controversas onde simula sexo oral com uma garrafa.

Quando o debate sobre o documentário já havia sido ofuscado por músicas de grande sucesso como “This Used to be my Playground”, a diva do pop gerou nova polêmica com o Livro “Sex”, lançado em 1992. “Erotica”, seu álbum lançado na mesma época, perdeu espaço para o debate acerca das 128 páginas do livro, que continha cenas de nudez, lesbianismo, sadomasoquismo e até zoofilia. Em 1993, o Brasil pôde ver a popstar pela primeira vez, em sua turnê “The Girlie Show”, com direito até a Madonna – com blusa do Brasil – cantando “Garota de Ipanema”.

Já em 1995, mesmo sob os inumeráveis protestos dos argentinos, Madonna estrelou o filme “Evita” ao lado de Antonio Banderas, que, coincidência ou não, caiu no gosto de Hollywood apenas depois de aparecer no falado documentário de Madonna quatro anos antes. Sua interpretação no filme lhe rendeu o Globo de Ouro de melhor atriz de musical ou comédia e a canção “You Must Love me” ganhou um Oscar. Em meio a esses acontecimentos, a estrela anunciou que estava grávida de seu ex personal trainer Carlos León. Em 14 de Outubro de 1996, nascia Lordes Maria Ciccone León, primeira filha da cantora.

Em 2000, logo após o sucesso de seu disco “Ray of Light”, a estrela casou-se com Guy Ritchie, cineasta britânico. Fora dos palcos, Madonna assumia os papéis de mãe, esposa e até mesmo de escritora de livros infantis. Fruto de seu segundo casamento, Rocco Ritchie nasceu ao mesmo tempo em que o álbum “Music” repetia o sucesso já comum à artista. Madonna, que já havia deixado explícito seu lado materno, ainda viria a adotar em 2007 seu terceiro filho, David Banda, em Malawi, em um processo bastante conturbado e discutido pela mídia.

Em 2003, Madonna relembrou seu gosto por polêmicas no MTV Vídeo Music Awards, beijando a cantora Britney Spears durante uma apresentação. No mesmo ano a artista lançou o álbum “American Life”, que apesar de ser dono da menor marca de vendas da popstar, serviu para confirmar a postura não conformista de Madonna, que acusava no disco os padrões de vida americanos.

Depois do lançamento do CD “Confessions on The Dancefloor”, Madonna passou pelo seu segundo divórcio, terminando em 2008 com um casamento de oito anos. No mesmo ano, a estrela finalmente retornou ao Brasil com sua turnê “Sticky and Sweet Tour”. Durante sua estadia em terras tupiniquins, Madonna conheceu o modelo brasileiro Jesus Luz, com quem se envolveu gerando nova polêmica, já que o rapaz era 30 anos mais jovem que a artista.

A popstar, que atualmente seguia a doutrina da Kabbalah, teria se impressionado com a fé do modelo, que também seguia a religião antes mesmo de conhecê-la. Este encantamento, conflitante ou não com a Madonna conhecida por exalar sensualidade pelos poros, só veio a realçar que a artista sempre foi sinônimo de controvérsia, polêmica e sucesso.

Apesar de ser tida como autoritária e falastrona, amigos íntimos descreviam Madonna como alguém sensível e confusa. Em meio a tantos tumultos e questionamentos em que a estrela se envolveu durante sua carreira, uma certeza sempre a acompanhava: “Mesmo quando era pequena, eu já sabia que queria que todo o mundo soubesse quem eu era, que me amasse e que fosse afetado por mim." – relatou à revista “People”, em 13 de Maio de 1985.

Parece que nem Madonna podia prever que sua vontade fosse se cumprir de maneira tão rápida e sólida. A cantora relatou, quando sua turnê “Blond Ambition” terminou e todos os envolvidos estavam permeados em tristeza e despedida, que não sentia nada. “É como quando alguém está morrendo e você se prepara, faz sua paz interior antes que a pessoa morra. É como um mecanismo de defesa.”, relatou. Infelizmente, ninguém pôde se preparar para uma morte tão súbita e prematura.

A Rainha do Pop, que certa vez declarou desejar viver para sempre, deixou 3 filhos, o maior patrimônio conquistado por uma cantora na história e um feito inigualável em sua biografia – o de ícone musical pop absoluto por mais de 3 décadas, e quem sabe, por muitas outras que ainda virão.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

PERFIL - JARBAS VASCONCELLOS

* Texto confeccionado em 11 de Março de 2009.

Em 23 de agosto de 1942, na cidade de Vicência (PE), nascia uma das mais conhecidas figuras da política nacional contemporânea. Tendo ocupado inúmeros cargos ao longo dos seus quase 40 anos de carreira política, o filho de Carlindo de Moraes Vasconcelos e Áurea de Andrade Vasconcelos foi sempre uma personalidade constante e polêmica na agenda política e econômica do país.

Sua intimidade com o mundo político nasceu quando ingressou na Universidade Católica de Pernambuco, em 1964, onde se formou em Direito. Jarbas, seguindo os rumos da militância política, foi um dos fundadores do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), no qual ingressou em 1966. Dentro do MDB, pertencia à banda do partido que se destacou na resistência à ditadura militar e na defesa dos direitos democráticos, participando posteriormente do movimento das “Diretas Já” (1984).

Conciliando a advocacia e a política, o atual senador do Congresso Nacional foi eleito deputado estadual em 1970 e deputado federal em 1974. Após a tentativa frustrada de se tornar senador nas eleições de 1978, Jarbas ingressou no PMDB (partido ao qual pertence até os dias atuais), reelegendo-se como deputado federal em 1982.

Apesar de ter participado ativamente no movimento das “Diretas Já”, Jarbas rebelou-se contra as eleições indiretas de 1985, não comparecendo ao Colégio Eleitoral que elegeu o ex-governador de Minas, Tancredo Neves, à Presidência.

Ainda em 1985, Jarbas não hesitou em deixar o PMDB quando viu seu futuro político ameaçado pela legenda, que montou uma convenção municipal para derrotar suas pretensões de se candidatar à prefeitura do Recife. Após o ocorrido, o pernambucano buscou refúgio no PSB, formando a “Frente Popular do Recife”. Esta coligação tinha como âncora a própria imagem de Jarbas, aliada ao apoio da maioria do PMDB e de outros partidos como o PT e PC do B. Mesmo à custa da infidelidade partidária, Jarbas conseguiu se eleger prefeito de Recife. Assim que pode, voltou ao PMDB, logo após o término de seu mandato pelo PSB. Na ocasião, Jarbas ocupou o cargo de presidente nacional do partido, por conta da candidatura de Ulysses Guimarães à Presidência, com quem mantinha estreitas relações, desde os tempos de MDB.

Já como candidato ao governo do estado de Pernambuco, em 1990, foi derrotado pelo candidato do PFL Joaquim Francisco. Antecessor na prefeitura, Joaquim tinha também derrotado o candidato do PMDB às eleições municipais de 1988. Em 1992, Vasconcelos foi eleito pela segunda vez à Prefeitura do Recife, deixando para trás adversários como Eduardo Campos (neto de Miguel Arraes, líder influente na política pernambucana) e André de Paula (candidato de Joaquim).

Jarbas ainda criou outra coligação, chamada “União por Pernambuco”, entre PMDB e PFL, que cogitava sua possível candidatura ao cargo de governador de Pernambuco nas eleições de 1994. Tendo preferido permanecer no cargo de prefeito, a “União por Pernambuco” lançou como candidato ao governo do estado o deputado Gustavo Krause, que perdeu para o ex-governador Miguel Arraes.

Nos anos consecutivos, Jarbas manteve sua aliança com o PFL (atual Democratas), impedindo a reeleição de Arraes e sendo eleito governador em 1998. Em 2002, Jarbas chegou até mesmo a ser cotado como vice-presidente na chapa de José Serra à Presidência. Permaneceu no cargo de governador até 2006, quando renunciou para tentar uma vaga no Senado. O atual senador foi eleito com 2.031.261 – 56,14% dos votos válidos.

De acordo com sua trajetória profissional, fica claro que sua importância e influência no PMDB remontam à criação da legenda. Mesmo assim, o atual senador tem feito duras críticas ao próprio partido, declarando à Veja, semanas atrás, que boa parte do PMDB "quer mesmo é corrupção". O senador pernambucano também afirmou que o presidente Lula tem sido conivente com a corrupção no governo e que o programa Bolsa Família é o maior programa oficial de compra de votos no mundo.

A entrevista dada por Jarbas gerou desconforto no âmbito político e pôs lenha na fogueira no embate entre governo e oposição. De um lado, Pedro Simon veio somar forças à Jarbas dizendo que "O PMDB está se oferecendo para ver quem paga mais e quem ganha mais". Quem apóia a iniciativa do senador afirma que a corrupção é como um “tumor” na democracia brasileira e que sua entrevista seria um grito de “basta”.

Por outro lado, adversários afirmam que o senador só concedeu sua polêmica entrevista porque estaria a serviço da candidatura do governador José Serra à Presidência da República. Partidário do tucano José Serra, Jarbas Vasconcelos tentaria assim levantar a questão da divisão do PMDB para ter, mais na frente, um argumento forte: "O bom PMDB está com o PSDB, por uma questão de ética e princípios", enquanto a banda podre estaria com o candidato do PT e até mesmo podendo ocupar a vice-presidência na chapa encabeçada pela ministra Dilma Rousseff.” – como afirmou a jornalista Denise Mendes, do “Estado de Minas”.

Político preocupado com a ética e a moral ou oportunista? De qualquer forma, Jarbas Vasconcellos já tem seu nome gravado na história da política brasileira, o que, para mal ou bem, é conquista para poucos.

TRABALHO INFANTIL

*Texto confeccionado em 18 de Setembro de 2008.

INFÂNCIA ROUBADA

"O que se faz agora com as crianças é o que elas farão depois com a sociedade." (Karl Mannheim)

Lesões nas vértebras e malformações associadas ao transporte de cargas pesadas, doenças relacionadas à atividades insalubres, exposição ao lixo e à substâncias tóxicas, tendência à marginalidade e ao crime, falta de oportunidades, exclusão. Infelizmente esta é a realidade que aflige aproximadamente 245,5 milhões de crianças em todo o globo, segundo a OIT (Organização Internacional do Trabalho). Destas, 179 milhões, ou seja, uma em cada oito crianças no mundo, são vítimas das piores formas de trabalho infantil, que incluem a prostituição, a escravatura, o envolvimento com atividades ilícitas e conflitos armados, o trabalho em locais de risco e outras atividades de cunho forçado.

O Brasil contribui com um percentual alto destas estatísticas. Cerca de 16% das crianças brasileiras estão sujeitas à algum tipo de trabalho. O DF é dono do menor índice de trabalho infantil do país, mas mesmo assim, o número de crianças e jovens entre 5 e 15 anos que trabalham no estado sofreu aumentos nos últimos anos, segundo o PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, realizada pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Felizmente, algumas providências vêm sido tomadas no intuito de combater esta situação. Foram criados órgãos, alteradas leis e implantadas jornadas escolares ampliadas, bolsas de estudo e programas de geração de renda, em uma tentativa de possibilitar que essas crianças não tenham que sair de casa tão cedo para ajudar no sustento de suas famílias. Além disso,várias instituições privadas, organizações e creches atuam em várias regiões do país, colaborando com a tentativa de erradicação deste tipo de trabalho.

É o caso da Associação dos Voluntários Pró-Vida Estruturada – Viver, localizada na Cidade Estrutural, na periferia de Brasília. A população, em sua maioria catadores de lixo, vive em meio à muito barro, poeira e pobreza. As poucas vias asfaltadas existentes são utilizadas para fazer o transporte do lixo até os aterros sanitários. A Associação Viver está situada atrás de um desses aterros e através do seu trabalho tenta tirar as crianças do lixão, trazendo-as para o âmbito escolar e familiar. A estrutura do local, apesar de precária, permite que muitas crianças sejam abrigadas nos horários em que não estão freqüentando a escola.

Uma das causas determinantes do trabalho infantil no país é a concentração de renda. Além disso, a falta de uma política educacional séria e a precarização das relações de trabalho acabam por agravar ainda mais esse problema. O que acontece é que a sociedade brasileira naturaliza este trabalho como sendo aceitável e as vezes até desejável, tendo em vista que este seria uma alternativa à fome e à miséria. A exemplo disso, a Assistente de Coordenação Pedagógica da Associação Viver, Jackeline Correia de Sousa, acredita que o trabalho infantil na Cidade da Estrutural acontece pela necessidade e pela cultura existente no local.

Rivaldo Segundo Sousa Aguiar, 7 anos, hoje protegido pela associação, sabe muito bem qual é a realidade vivenciada no lixão. “Sempre trabalhei desde que me entendo por gente”, afirma o garoto que recolhia e carregava materiais de plástico numa jornada de aproximadamente 13 horas diárias. Rivaldo começou a freqüentar o lixão com 3 anos de idade, se alimentando de restos de comida com o período de validade vencido encontrados ali mesmo nos aterros.

Há pouco mais de um ano uma assistente da CAENGE (Empresa de Administração do Aterro Sanitário) solicitou a recepção do garoto na Associação Viver. A partir daí sua família também passou a ser atendida pelo Bolsa Família e pelo CRAS (Centro de Referência de Assistência Social). Segundo Jackeline, Rivaldo, que agora freqüenta a associação pela manhã e a escola no período da tarde, era extremamente tímido quando chegou à creche. “Não sabia brincar nem se relacionar com as outras crianças. Agora, adora futebol! É difícil separá-lo da bola”.

Infelizmente, casos menos felizes que o de Rivaldo continuam a acontecer. Wesley de Jesus Santos, de 13 anos, que também freqüentou a associação, atualmente trabalha esporadicamente no lixão, quando a mãe precisa. Nos finais de semana o garoto trabalha com seus irmãos como flanelinha, engraxate e vigia de carro na Feira dos Importados e do Cruzeiro. O dinheiro adquirido por final de semana, cerca de 25 reais, é divido entre o garoto e a mãe. “Trabalho pela minha independência. Quero comprar uma bicicleta”, afirma Wesley.

Segundo a Assistente de Coordenação Pedagógica, a volta de algumas crianças ao mundo do trabalho se dá devido a idade mais adulta com que chegam ao local. “As crianças quando retiradas novas do trabalho se adaptam melhor à nova vida, enquanto as mais velhas não, porque esse é o único referencial que elas possuem - o de que não é importante estudar e sim trabalhar para ganharem seu dinheiro.”

O que é preciso é que sociedade e governo se unam para solucionar de vez a questão do trabalho infantil. O trabalho de crianças reproduz e aprofunda a desigualdade social na medida em que prejudica o desenvolvimento físico, psicológico, intelectual e social na infância. Criança que trabalha não estuda bem, não brinca o suficiente e não se prepara para a vida. É preciso que haja uma conscientização profunda sobre a maneira que a nossa sociedade encara este problema. Trabalho infantil não é solução, é problema para a criança e para a o país.

MAIO DE 1968 E O MOVIMENTO ESTUDANTIL


*Texto confeccionado em 30 de Junho de 2008.

Impossível não falar de 68 enquanto o mundo inteiro está engajado nas comemorações dos seus 40 anos. Impossível também não lembrar da importância desse ano mítico, das transformações que ocorreram a partir dele e do seu enorme legado. Impossível não atentar para o fato de que a mobilização política e social protagonizada pelos jovens da época colhem frutos até os dias atuais, servindo de exemplo de luta e conquista para os movimentos estudantis.

0 “meia oito” das transformações

“Foi muita acontecência. Girávamos sem parar. Querendo fazer tudo e estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Uma loucura linda! Tudo era fundamental! Tudo era imperdível! Tudo era urgente! Íamos mudar o mundo. Nem mais, nem menos...”(Abramovich, 1989:31)

“D`éfence d`interdire!” (É proibido proibir). Era esse o grito que se escutava em uníssono nas ruas de Paris e que depois virou slogan de toda uma geração. As fotos em preto e branco escondem as cores reais de 1968. Sangue, o psicodelismo, a luta contra o cinza da realidade. Existia uma ânsia por mudanças. Os jovens de 68 experimentaram todos os limites possíveis, sejam eles políticos, sexuais, experimentais, existenciais ou comportamentais, numa luta ferrenha contra qualquer tipo de imposição. As pessoas estavam dispostas a sair nas ruas, mesmo que sob a ameaça da morte, para alcançar seus objetivos pessoais, políticos e ideológicos. Uma espécie de onda revolucionária tomou conta dos quatro cantos do mundo.

O maio de Paris

“A barricada fecha a rua, mas abre a via”

Uma multidão de jovens está entrincheirada em inúmeras barricadas, o Quartier Latin está tomado. Inúmeros gritos contra o governo são proferidos, “De Gaulle assassino”, as pessoas repetem. A polícia ataca, a primeira barricada, na metade da avenida, cai com pouca resistência. Algumas outras, porém, parecem intransponíveis. Quando a tropa da polícia se aproxima é recebida por milhares de paralelepípedos arrancados das ruas e por dezenas de automóveis incendiados, jogados ladeira abaixo. As pessoas choram, as sirenes rasgam o silêncio da madrugada. Moços e moças estão desesperados por socorro e a guerra prossegue. Esse é o cenário que marca até hoje a memória do Maio de 68.

Neste momento, surgia na França um movimento da juventude contra a sociedade dos seus “pais e avós”, conservadora, antiquada. Existia uma agitação a favor da revolução sexual, da democratização dos costumes, das modificações da Igreja e de uma abordagem existencial da vida. Isso só foi possível devido a uma explosão demográfica pela qual a França não passava desde os tempos do Iluminismo. Em 68, o número de jovens nas universidades era dez vezes maior do que em 1946. Segundo o historiador Alexandre Roche, “Foi esse peso que deu aos jovens a sua força”.

A guerrilha em paris começou dois meses antes na Universidade de Nanterre por um motivo aparentemente sem importância: a reitoria da instituição, onde estudavam cerca de 12 mil estudantes, proibiu que rapazes visitassem moças em seus dormitórios. O jovem judeu-alemão Daniel Cohn Bendit reuniu um grupo de 100 colegas e invadiu a secretaria da Universidade. O incidente foi a principio um fato isolado, mas foi onde nasceu a estrela de Daniel (conhecido posteriormente como Dany Le Rouge – Daniel, o Vermelho) no meio estudantil.

Dia após dia Paris foi palco de embates intermináveis entre a polícia e os manifestantes. A Universidade de Sorbonne também foi palco de várias manifestações. Daniel Cohn Bendit proclamava “A Sorbonne deve transformar-se numa nova Nanterre!”. Após um protesto na Sorbonne, no dia 3 de maio, os conflitos entre os jovens e a polícia deixaram mais de 100 feridos e 500 presos. A escalada da violência em paris culminou com a “Noite das Barricadas”, ocorrida no dia 10 e no dia 24 de Maio. Com os estudantes tentando contaminar os operários, que partilhavam de uma situação precária de trabalho, os sindicatos convocaram uma greve geral. A adesão dos trabalhadores foi surpreendente e o número de grevistas chegou a dez milhões. Toda essa massa, apesar de ter lutas distintas, tinha um mesmo objetivo: derrubar De Gaulle.

O que os estudantes não poderiam prever era que sua gigantesca mobilização ia se desfazer com a mesma velocidade com que foi possível organizar uma das maiores revoluções estudantis já vistas na história. O governo, as empresas e o líderes sindicais entraram em um acordo sobre um aumento dos salários e melhorias das condições de trabalho. Os trabalhadores permaneceram em greve em um primeiro momento, mas os 35% de aumento propostos pelo presidente foram um bom argumento para que os operários abandonassem os estudantes. De Gaulle em nenhum momento se mostrou propenso a renunciar e clamava pela ajuda de seus eleitores. Surpreendentemente, quase um milhão de pessoas demonstraram apoio à De Gaulle e a mobilização estudantil começou a perder sua força. Aos poucos as bandeiras vermelhas e pretas davam novamente lugar às guirlandas tricolores que drapejavam ao vento de uma primavera amena.

“Fora Thimoty”


A Unb foi palco de uma das maiores manifestações estudantis dos últimos anos no Brasil. O motivo? A decoração do apartamento do ex reitor, Thimoty Mulholland, que custou à Universidade aproximadamente R$500 mil reais. O montante teria sido disponibilizado pela Finatec (Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos), a fundação de apoio da Unb encarregada de financiar pesquisas dentro da Universidade. Segundo Fábio Felix, presidente do DCE (Diretório Central dos Estudantes), que liderou o movimento, “Essas fundações abrem precedentes e mecanismos jurídicos para que haja esse tipo de manobra de gastos como aconteceu com o reitor”. O escândalo, somado a uma denúncia sobre cartões corporativos usados pelos servidores da Unb, que somariam R$140 mil reais, causou uma onda de indignação nos estudantes.


Os alunos invadiram a reitoria da Universidade no dia 3 de Abril, exigindo o afastamento imediato dos ex-reitor e vice-reitor, além de uma série de outras reivindicações. Um dos delegados responsáveis pela negociação ocorrida no ato da ocupação, avaliava que a manifestação deveria durar até o início da noite da invasão, diante da “exaltação dos ânimos”. Mal sabia ele que a reitoria ficaria ocupada pelos estudantes por longos 15 dias.

A polícia federal tentou intervir na manifestação. A juíza Cristiane Pederzolli, da 17ª vara do DF, entrou com um processo de reintegração de posse. Por descumprir uma ordem judicial os estudantes deveriam pagar R$5 mil diários de multa, mas isso não foi suficiente para que eles abandonassem a causa. “A Polícia Federal é uma polícia que deve lutar contra a corrupção e a gente estava fazendo justamente isso. Seria vergonhoso para a Polícia Federal desocupar estudantes que estavam denunciando a corrupção”, afirmou Fábio Felix. Apesar de a polícia não ter efetivamente cumprido a ordem da juíza, a água e a luz do prédio foram cortadas.

No dia 7 de Abril cerca de 300 estudantes ocuparam todo o prédio da reitoria. Isso se deu depois de uma Assembléia realizada na Unb que reuniu cerca de 1,3 mil alunos. Os manifestantes passaram de sala em sala convocando outros alunos a aderirem ao movimento. Para o presidente do DCE, a ocupação acabou agregando na universidade um apoio do estudante do dia-a-dia, não só do estudante militante. Segundo ele, passaram pela manifestação até 8 mil estudantes, refletindo o que o estudante que estava em sala de aula pensava.

No dia 9 de Abril foi feita uma nova Assembléia, onde, segundo os organizadores, haviam mais de mil alunos. No dia anterior o Ministério Público do DF tinha entrado com uma ação de improbidade administrativa contra o reitor. Servidores de universidades federais de outros estados e a UNE (União Nacional dos Estudantes) apoiaram o movimento. Na Assembléia realizada no dia 14, Lúcia Stumpf, presidente da UNE, havia informado que pelo menos 28 universidades brasileiras iam promover manifestações pelo fim das fundações e pela realização de eleições paritárias nas universidades (algumas das reivindicações partilhadas também pelos estudantes da Unb).

A exoneração do reitor Thimoty Mulholland acabou sendo publicada no dia 16 de Abril e o professor de direito aposentado Roberto Aguiar assumiu o cargo de reitor interino. A multa de R$ 5 mil reais diários que os alunos deveriam pagar foi retirada. Os estudantes desocuparam a reitoria no dia 18 de Abril, mas Félix garantiu: “Desocupamos a reitoria para ocupar toda a Universidade. A nossa tarefa é pressionar e trabalhar para que a nossa pauta seja garantida e para que o estudante seja respeitado, para que possa ter voz e vez na Universidade”.

Maio de 68 X Unb

O que o maio de 68 na França tem a ver com a ocupação da reitoria da Unb? A princípio, dois acontecimentos tão distantes e com proporções tão diferentes parecem mesmo não se conectar. Apesar de Gaulle ter permanecido no poder, em 68, a estabilidade de seu governo se mostraria frágil. Em 69 o então atual presidente da França acabou renunciando e a luta vivenciada em maio permitiu uma série de possibilidades jamais imaginadas. Os estudantes da Unb conseguiram fazer das suas vozes um instrumento de luta e o reitor Thimoty Mulholland foi retirado de seu cargo. Nos dois acontecimentos foi a força dos estudantes que permitiu mudanças efetivas em suas realidades. As ocupações de reitorias na atualidade aproximam os estudantes brasileiros do Maio de 68, principalmente na sua etapa inicial, onde houveram invasões na Universidade de Nanterre. A luta por mudanças é uma conexão básica entre os dois acontecimentos, segundo Fábio Félix.

Os estudantes são atores importantes na vida de um país. Eles foram protagonistas de grandes transformações ao longo da história e maio de 68 não é o único exemplo. A importância dos movimentos estudantis dentro de uma instituição de ensino é fundamental. Para Walter, Coordenador do curso de Jornalismo do Iesb (Instituto de Educação Superior de Brasília), esses movimentos são primordiais para que o aluno conquiste seu espaço e exerça suas vontades, a exemplo do movimento realizado na Unb.

Infelizmente, se tornou comum no Brasil a idéia de que o movimento estudantil no Brasil está “morto”. O presidente do DCE da Unb não concorda com essa afirmação e diz que o movimento estudantil sempre funcionou, mas que talvez a mídia não tenha mais dado tanto foco para este depois do estabelecimento do estado democrático. “Eu acho que a ocupação da reitoria da USP no ano passado, o “Fora Collor” e as mobilizações contra FHC na década de 90 demonstram isso”, afirma Felix. Segundo ele a ocupação da reitoria e algumas ações mais radicalizadas tem um foco maior e ajudam a dar crédito para a luta e para a mobilização social como instrumentos de mudança da realidade. “As pessoas voltam a acreditar, serve para dar um ânimo novo”,diz.

Realmente reitorias das universidades da USP, Unicamp, Unesp e PUC-SP foram ocupadas no ano passado em atos de oposição ao decreto que alterava a autonomia universitária (Reuni). Segundo Fábio Felix a ocupação das reitorias é um instrumento que é usado pelos estudantes, não agora, mas há muitos anos. Nessas manifestações os estudantes agem de forma independente à outras manifestações ou segmentos da sociedade, numa luta contra a corrupção e pela conquista de várias reivindicações. Essas ações foram realizadas por grupos de alunos que atuavam por uma espécie de “voto” da maioria, através de Assembléias. Os blogs também tiveram uma atuação emblemática nestes últimos acontecimentos, se configurando como uma das principais formas de divulgação da luta dos estudantes.

Dessa forma é preciso repensar a idéia da apatia e da alienação que supostamente teriam tomado conta do movimento estudantil depois da década de 60. O que existe é uma visível diferença entre os movimentos ocorridos nessa época e as ações atuais: Autonomia. Hoje existe uma manifestação prioritariamente de cunho político-cultural, e não de cunho político-partidário. Apesar de alguns partidos políticos existirem nas organizações dos movimentos estudantis, eles não detêm mais a hegemonia na condução dos atos de manifestação, como ocorreu no passado.

O que os estudantes da atualidade querem é o exercício da ética em suas instituições de ensino. Mais que isso, querem espalhar essa semente “anti-corrupção” entre todos os jovens do país. Ao que tudo indica a luta dos estudantes estava apenas adormecida e não é preciso muito para que o “vulcão estudantil” entre em erupção.

O Movimento Estudantil no nosso dia-a-dia

Afirmar que o movimento estudantil é fundamental não é o suficiente. É preciso que cada instituição de ensino preze pelo amplo funcionamento desses movimentos dentro de sua organização. Será que a nossa Faculdade está cumprindo seu papel? Fomos atrás do Coordenador do curso de Jornalismo, Walter Roberto, para descobrir.

Quando perguntado sobre a existência de algum tipo de movimento estudantil no Iesb, Walter afirmou que um DCE foi criado no ano passado. O aluno Rafael, hoje no sétimo semestre de Jornalismo, teria feito uma chapa e uma eleição com a participação dos dois campus. A chapa organizada por Rafael era única e por isso foi eleita, passando a funcionar numa sala localizada no subsolo, perto da cantina. Infelizmente, segundo Walter, o DCE acabou surgindo com uma energia muito grande que não foi potencializada em reuniões, trabalhos e produtos. “Foram feitas vendas de ingressos para algumas festas universitárias, mas de concreto aqui dentro da instituição foi muito pouco. Se você perguntar para a grande maioria dos alunos, posso arriscar ai que 85% ou mais desconhecem que teve uma eleição, que foi feita uma chapa e que tem um DCE eleito”, afirma.

Walter também apontou que a despeito desse desconhecimento por parte dos alunos, durante a eleição para o DCE da Faculdade foram colocados cartazes nos campus da Asa Norte e da Asa Sul, convocando os alunos para a primeira assembléia e para a convocação das eleições. Infelizmente, mesmo com essa divulgação “poucos alunos do Iesb talvez entendam qual o significado do movimento estudantil”.

Para o coordenador apenas um pequeno grupo de alunos sabe que através desses movimentos pode-se almejar e conseguir uma variedade de coisas. Ele também afirma que a diretora da instituição, a professora Eda, sempre deixou total abertura para que existisse esse tipo de movimento, desde que ele fosse apartidário. “Tem a possibilidade disso ser feito, bem como eventos e congressos, até mesmo com o apoio financeiro da instituição, só que poucos são os alunos que aqui no Iesb se interessam em participar desses movimentos”, diz.

Walter foi recentemente procurado pelo aluno Luís Braga, do 4º semestre de Jornalismo, que estava interessado em saber do processo para a criação de um DCE. O coordenador explicou que existe um DCE, mas que ele não é atuante. “Hoje não existe atuação nenhuma, o espaço que era utilizado por eles, uma sala que ficava fechada 7 dias por semana, hoje está sendo utilizado pela administração para o projeto Jovem Empreendedor”, afirma. Para que novas eleições sejam feitas, o presidente do DCE teria que ser procurado para renunciar ao cargo, já que a eleição efetivamente valeria por dois anos e ainda existiria um período a ser cumprido por esse diretório eleito. Para Walter, uma nova eleição seria de extrema importância para os alunos.

O que fazer diante de um desconhecimento e de uma aparente falta de interesse tão grande por parte dos alunos em uma questão tão essencial? Nunca houve na instituição nenhuma averiguação acerca do interesse dos estudantes sobre esta questão, mas para Walter uma pesquisa nesse sentido valeria a pena. “Alguns cursos tem uma disciplina chamada “Pesquisa de Opinião e Mercado”, onde os professores poderiam adequar os exercícios de sala de aula para que essa pesquisa fosse feita. No 8º semestre de Jornalismo de dois anos atrás, foi feita uma pesquisa em parceria com a Radiobrás para saber a opinião da população de Brasília sobre a Voz do Brasil. O professor Reus também fez recentemente uma pesquisa sobre esportes em Brasília. Então isso pode ser feito, acho que é totalmente viável”, diz.

O que ocorre em grande parte dos casos é que os alunos das Faculdades particulares desconhecem que por estudarem em instituições pagas podem, também, participar desses movimentos. Existe um mito de que isso só é adequado nas instituições públicas. Em meio a tantas dúvidas sobre o interesse e o engajamento dos alunos acerca do movimento estudantil, resta apenas uma certeza: é preciso que algo seja feito. Se olharmos para trás não será difícil perceber a importância do movimento estudantil. Se hoje vivemos em uma democracia, conseguimos feitos como a derrubada de um reitor corrupto, ou até mesmo de um Presidente, é porque outros jovens abriram o caminho para nós. Se não houver uma conscientização nesse sentido, já que a enorme maioria dos estudantes universitários do país estudam em faculdades pagas, quais caminhos as futuras gerações poderão seguir?

1968 E AS DROGAS


* Texto confeccionado em 20 de Junho de 2006.

UTOPIA DA EXPERIMENTAÇÃO

“Sou uma pessoa organizada. Guardo meias na gaveta de meias e drogas na caixa de drogas” (George Harrison – Beatles – Em 1968, comentando uma batida policial em sua casa).

Rock de contestação no rádio, posters dos Beatles e dos Rolling Stones nas paredes de seus quartos, idolatria por Che Guevara, Marx e Marcuse; cigarro com filtros de um lado, maconha no outro; uma câmera fotográfica na mão, idéias imcompletas na cabeça. Seu visual inovador, colorido, se contrasta com as tradicionais cores discretas como o preto, o branco e o cinza; os cabelos longos se consagraram em oposição ao corte militar; as barbas compridas; o coração tomado por uma sede de mudanças. Esse poço de contradiões era o jovem de 68. Utópico, sonhador.

As mentes dos garotos e garotas estavam povoadas por projetos coletivos de transformação da sociedade. Existia uma ânsia pelo novo. Esta geração não se acomodou e lutava avidamente contra qualquer tipo de autoritarismo, sonhando com um mundo de paz regido pelo imaginário e livre de qualquer repreessão. Havia uma explosão de sexualidade e de busca pelo prazer.

Era a hora de experimentar. A geração de 68 experimentou todos os limites possíveis, sejam eles de cunho político, social ou comportamental. Segundo Zuenir Ventura, autor do best seller 1968 – O ano que não terminou, “Experimentava-se em todas as áreas, quase sempre pelo simples prazer da descoberta”. Essa descoberta se dava pelos gestos de liberdade sexual, pelo inconformismo com os valores existentes e, principalmente, pelas experiências com drogas.

O uso de drogas é uma prática adotada desde a antiguidade. O seu consumo, na maior parte dos casos, estava intimamente ligado às tradições culturais e religiosas dos povos. As plantações de Coca (planta que dá origem à Cocaina), por exemplo, eram comuns por volta do século XV, cultivadas como qualquer outro gênero agrícola. No final do século XIX surgiram grupos de religiosos que iniciaram movimentos em defesa da proibição das drogas, estabelecendo- as como inimigas do puritanismo pregado como um dogma pela religião.Até o início do século XX as drogas ainda eram livremente comercializadas, mas Segundo Rodrigues (2003), o debate sobre o consumo destas substâncias começou a se intensificar no começo deste mesmo século, nos EUA.

“A proibição do comércio de drogas é estabelecida apenas em 1914 nos EUA e em 1921 no Brasil. Segundo essas novas diretrizes instituia-se a figura do traficante e do viciado como alvos de perseguição. O primeiro deveria ser encarcerado e o usuário, considerado doente, deveria ser tratado." (RODRIGUES,2003,p.30). A partir daí o uso de drogas passou a ser considerado como um ultraje às tradições da sociedade conservadora.

O que ocorre a partir de 68 é uma reviravolta na forma de encarar as antigas instituições que davam base à esta sociedade, incluindo uma nova forma de ver a utilização das drogas. Houve uma espécie de utopia ingênua, de forma que se acreditava que as drogas seriam um caminho para a ampliação do conhecimento, de autoconhecimento, de liberação da sensibilidade e da sexualidade e de expansão da consciência. A droga foi mitificada como a “chave para as portas da percepção”. O livro de Aldous Huxley, com esse título, de 1954, influenciou vários jovens. As drogas atuariam nas terminações nerovas – sinapses – permitindo uma maior percepção dos sentidos externos e internos.

Naquela época, as esquerdas brasileiras eram, em geral, muito “caretas” a esse respeito. As drogas circulavam mais na cultura americana do que nas outras. A partir dos anos 70 seu consumo se espalhou pelo mundo inteiro e se generalizou, principalmente com o movimento de contra-cultura protagonizado pelo movimento hippie.

O surgimento dos hippies coincide com o auge do sentimento de repudia dos jovens à Guerra do Vietnã. Nenhum outro acontecimento desde a Guerra de Secessão (1861-1865) causou tamanha divisão na opinião pública dos EUA. Os conservadores e a chamada “maioria silenciosa” acreditavam que era uma guerra justa e nobre, de forma que os americanos estavam a impedir uma ameaça comunista.

A juventude universitária, os intelectuais e os escritores não concordavam como esses argumentos. A duração e a proporção do conflito no Vietnã tinham chamado atenção. Para eles, a maior potência do mundo queria impor seu poderio à um pequeno país da Ásia, recorrendo a pretextos pseudo-humanitários que serviam de máscara para os bombadeios, massacres e várias outras atrocidades presenciadas na guerra. Uma crescente crítica não só a ação militar mas aos valores globais da sociedade americana foram consequencias dessa nova maneira de pensar.

Os jovens de 68 nos EUA acharam várias maneiras de contestar essa situação, seja pregando a desobediência civil, seja queimando em grandes manifestações públicas as convocações para o serviço militar, seja vestindo brim e trajes de algodão colorido. Nascia o movimento Hippie. O auge do movimento foi o festival de Woodstock, que marcou os valores da geração de 60, divulgando e ampliando o consumo das drogas.

Os jovens desejavam um alívio momentâneo da tensão e frustação causadas pela guerra, e viajavam sob o efeito da maconha, das perigosas bolinhas, do haxixe e de alucinógenos como a psilocibina (alcalóide extraído de um cogumelo) e o LSD. O uso do cigarro de tabaco muitas vezes era considerado prejudicial à saúde, enquanto a maconha e as outras drogas eram mais exaltadas devido a sua natureza ilícita, de quebra às antigas normas de conduta. Na procura de “Lucy in the Sky with Diamonds” personalidades como Jimi Handrix e Janis Joplin não encontraram o caminho de volta.

A literatura desses jovens passava desde Herman Hesse, cujos livros centravam-se em histórias orientais de iniciação e técnicas visando à introspecção e à meditação nirvânica ao poeta Dylan Thomas, um rompedor de regras. O movimento de contra cultura era visto como uma dissociação profunda dos pressupostos básicos da sociedade americana, sendo considerado como uma invasão bárbara de aspecto alarmante. Nos anos 70, o movimento hippie ganhou proporções mundiais, espalhando os slogans de “Paz e Amor” e “Faça Amor, Não Faça Guerra” entre os jovens.

De fato as drogas psicodélicas tiveram uma forte influência no moviemento hippie e nos movimentos de contestação que tomaram conta do globo ao longo do ano de 1968. Na época elas eram utilizadas em largas quantidades e o acesso era muito fácil. Sua popularização permitiu a disseminação dos sentimentos de liberdade revolucionária. O que não era percebido nesta época era o potencial destrutivo destas drogas e suas implicações sociais quando ligadas ao crime organizado.

O efeito do pós-68 foi uma grande depressão, pois os jovens que lutaram de forma tão apaixonada por causas sociais importantes, embalados por suas drogas, tiveram que largar parte da sua luta, envelhecer e lidar com as frustrações do dia-a-dia. Terminadas as revoltas, conflitos, passeatas e festividades psicodélicas de 1968 era preciso retomar a vida; a magia das drogas era finita, tinha a duração do efeito característico de cada substância.

As drogas, atualmente dominadas por multinacionais, são um dos negócios mais rentáveis do mundo. Segundo Zuenir Ventura este seria o pior legado de 68, segundo ele uma “herança maldita”. O uso das drogas pode ser um intrumento de morte, algo extremamente perigoso se não houver respeito e intensão de uso além do “barato”.

ÉTICA E RESPONSABILIDADE NO JORNALISMO: UTOPIA OU ALGO PASSÍVEL DE REALIZAÇÃO?


*Texto confeccionado em 04 de Junho de 2008.

A ética é um campo de reflexões cujo foco é a análise das relações entre os indivíduos. De maneira simples, a ética é aquela que trata da escolha entre “o bem” e “o mal”, levando em conta os interesses da maioria. As profissões relacionadas às Comunicações têm uma função estratégica na sociedade, sendo, por isso, permanente objeto de discussões éticas.

Espera-se do jornalista uma atitude objetiva em relação à elaboração das notícias. Este deve seguir, segundo as expectativas da sociedade, as premissas básicas de imparcialidade e compromisso com a verdade. Um fato que perde sua notoriedade em meio a tantas regras é a subjetividade própria de qualquer indivíduo. Inerentemente, a pessoa que escreve deixará suas marcas, influenciadas por seu vocabulário e ideologia. Essa constatação é que torna a ética no Jornalismo, não inatingível, mas longe de ser um dogma.

Ainda neste âmbito, outra questão a ser analisada é a tão aclamada liberdade de imprensa. A liberdade de expressão, direito garantido por lei, dá margem ao conflito, já que a princípio qualquer pessoa pode expressar suas idéias e pensamentos sem nenhum tipo de mediação. Toda essa liberdade insere mais um tópico ao embate: a responsabilidade. A responsabilidade social não é um conceito novo e ao longo do tempo tornou-se um modelo a ser aplicado principalmente às empresas jornalísticas.

Segundo esse modelo, qualquer pessoa que disponha de liberdade tem obrigações para com a sociedade. A exemplo disso, o famoso relatório da Hutchins Commission - “Uma Imprensa Livre e Responsável” - definiu as diretrizes a serem seguidas pela mídia na sociedade moderna. O estudo resumiu as cinco principais exigências a serem cumpridas pelos meios de comunicação. Esses principais pontos se tornaram a origem dos critérios levados em conta para a designação do “bom jornalismo” - isenção, exatidão, objetividade, diversidade de opiniões e interesse público.

Influenciado por estes pressupostos, o Código de Ética do Jornalismo Brasileiro, que vigora desde 1987, existe como uma tentativa de reger a prática jornalística. Como a profissão do jornalista é imprevisível e dinâmica, o Código de Ética não é capaz de conter todas as situações às quais o profissional é exposto. Além disso, o jornalista é subordinado a um sistema que possui, também, seus interesses econômicos, institucionais e políticos. Dessa maneira, o Jornalismo está inserido em um conflito ético diário.

Partindo dessas informações fica fácil entender o impasse ético jornalístico. A ética no Jornalismo existe? Quais as dimensões da responsabilidade de um jornalista? Para compreender essas questões é preciso uma breve explicação sobre a capacidade de influência da mídia. No contexto desses estudos há inúmeros casos que tentam explicitar esse poder de influência.

Dentre os casos mais notórios podemos citar “O Caso Welles”, ocorrido em 1938. Reconhecida como um marco histórico das telecomunicações, a transmissão de “A Guerra dos Mundos”, liderada por Orson Welles, levou mais de 1,2 milhão de pessoas a um delírio paranóico, em uma descrição de um ataque de Marte à Terra. Apesar de se tratar de uma ficção, milhares de pessoas se viram aterrorizadas, ocasionando uma onda de fugas e medo. Um programa da mesma natureza foi transmitido em São Luís do Maranhão, em 1971, repetindo a façanha.

Esses episódios ilustram o inegável poder da comunicação. O jornalista deve se atentar à responsabilidade que carrega ao levar informações à população, que tende a acreditar em tudo que é veiculado. Exemplo disso é o filme “O Preço de uma Verdade”, baseado em fatos reais, onde o jornalista Stephen Glass ascende rapidamente em sua carreira através de textos com informações falsas ou de autoria de outras pessoas. O filme tornou-se importante por explicitar uma triste face do mundo jornalístico.

Não é preciso ir longe para achar exemplos dessa realidade. Atualmente o jornalismo oscila entre a romântica imagem de porta-voz da opinião pública e juiz da sociedade e a de empresa sem escrúpulos comprometida apenas com os lucros. Exemplo disso é o “Caso Veja”, documentado em forma de dossiê pelo jornalista Luís Nassif. Luís denunciou o antijornalismo da revista, que envolve tráfico de influências, interesses corporativos e destruição de reputações.

O frágil equilíbrio entre interesses públicos e privados, lógicas econômicas, liberdade jornalística e ética individual de cada jornalista é ainda um objetivo difícil de ser alcançado. Talvez o jornalismo como um todo ainda tenha muito o que aprender com o velho relatório da Hutchins Commission. É tempo de pensar mais na responsabilidade daqueles que escolheram como profissão o Jornalismo. As regras de conduta que pressupõe o “bom jornalista” nada mais são do que tentativas de assegurar ao leitor algo essencial: o direito à informação de qualidade.

TOO FAST, TOO BAD

*Texto confeccionado em 25 de Maio de 2008.

Atualmente estamos vivenciando uma transição de uma sociedade industrial para uma sociedade do conhecimento, da tecnologia. Neste momento a palavra chave que cerca o cenário não só brasileiro, mas mundial, é a mudança. De acordo com Peter Drucker em seu livro Sociedade pós-capitalista, as atividades que ocupam o lugar central das organizações não são mais aquelas que visam produzir ou distribuir objetos, mas aquelas que produzem e distribuem informação e conhecimento. ¹ O conhecimento tornou-se um dos principais fatores para tornar possível a mobilidade social e a superação de desigualdades.

Nesta “Sociedade do Conhecimento” as mudanças e as inovações tecnológicas ocorrem em um ritmo muito acelerado. A partir da banalização da maioria das tecnologias e de formas de propagação do conhecimento, situação esta que já vem se consolidando até mesmo nos países de Terceiro Mundo, a sociedade atual adquiriu novas maneiras de viver e de se organizar.

Devido a toda estaa tecnologia, muito tempo é poupado, o que se deve principalmente pela não obrigatoriedade de deslocamentos físicos para a realização de diversas tarefas comuns ao cotidiano das pessoas. Muitos serviços podem ser realizados pela internet, em tempo real. Se antes as pessoas precisavam enfrentar filas para tirar seus extratos, para comprar um livro ou até mesmo para assistir um filme, hoje tudo pode ser feito em um piscar de olhos. Velocidade. Esse é o termo que sintetiza a maioria das mudanças por que passa a sociedade capitalista, sociedade esta onde o tempo passou a ser um dos bens mais preciosos.

A valorização demasiada do tempo vem causando diversas conseqüências para a população. Além dos pontos positivos indiscutíveis como a modernização, a dinamização e o progresso destas populações, há pontos negativos que dificilmente são lembrados ou discutidos. As relações humanas vêm se tornando cada vez mais distantes devido a essa nova era. O homem está com sua atenção voltada para toda essa rápida transformação, muito mais do que para com sua relação com as outras pessoas.

Contatos como uma conversa com a família na hora do jantar, um papo descontraído com as pessoas na fila de um banco ou a leitura de um bom livro, não por obrigação, mas por vontade de fazê-lo, são coisas que cada vez mais são consideradas como literal “perda de tempo”. Esse tipo de pensamento contribui para o mal-estar das pessoas em geral, que anestesiadas pelas maravilhas dos tempos modernos, não conseguem diagnosticar que as relações humanas são quesitos de peso no quadro geral de seu conforto.

Esse distanciamento das relações interpessoais, evidenciado atualmente, acaba por gerar insatisfações, angustias, medos, vazios e ansiedade. Muito disso pode ser confirmado por um simples exercício de questionamento. Se refletíssemos sobre as pessoas que já passaram por nossa vida, se estão bem ou não; onde estão, será fácil na maioria dos casos averiguar que há sim uma despreocupação com as relações humanas. Este descaso é inerente e reflexo de uma sociedade regida pela lógica do mercado e do consumo. Exemplo disso é que até a humanização já se tornou um produto “rentável”, com cursos para humanizar empresas, escolas e hospitais.

Não só a relação entre as pessoas, mas tudo de um modo geral vêm se tornando efêmero. Tudo fica velho e em desuso rapidamente e a reação das pessoas é estar sempre atrás do novo. Essa velocidade que caracteriza a nossa sociedade atualmente cresce cada dia mais, tornando tudo transitório.

É preciso discutir sobre toda essa velocidade. Será que não estamos perdendo com essa falta de contato humano? Será que tanta pressa não nos faz pular etapas e processos importantes? É preciso que haja um questionamento acerca dessas questões, junto com alternativas para conter essa situação. As relações humanas são tão ou mais importantes do que as relações econômicas e políticas em uma sociedade, de forma que estas se complementam de forma intrínseca e não atentar para isso é fadar a população à problemas ainda mais sérios a longo prazo. A saúde mental do ser humano depende em muito da maneira com a qual ele se relaciona com as pessoas a sua volta. É preciso parar pra pensar em quais serão as conseqüências se o ritmo das mudanças continuar esse. É literalmente necessário, parar.

Referências

1. DRUCKER,P. F. Sociedade pós-capitalista. 7.ed. Rio de Janeiro: Campus, 1999. 208 p.
04 -06 -2008

O PODER DA COMUNICAÇÃO - CASO ORSON WELLES

* Texto confeccionado em 17 de Maio de 2008.

A discussão sobre a capacidade de influenciar as pessoas que os meios de comunicação de massa possuem é desde sempre um dos tópicos mais presentes no que concerne à pesquisa sobre a comunicação. Desde as primeiras teorias acerca desse assunto, onde se acreditava que a mensagem tinha poder instantâneo e absoluto sobre as pessoas, até as teorias mais atuais, onde já se sabe que os meios de comunicação influenciam as pessoas à medida que estas já tenham uma predisposição a essa mensagem, este sempre foi um paradigma constante e amplamente debatido.

O poder que uma mensagem tem de interferir nas opiniões dos receptores depende de vários fatores que se interligam. Antes de tudo é preciso se atentar ao contexto social, histórico e econômico em que dada mensagem esta sendo veiculada. Em segundo plano é preciso que haja uma análise do grau de conhecimento e estudo da audiência, seu interesse em adquirir informação, a credibilidade do comunicador, a ordem de argumentação da mensagem, o tipo de veículo utilizado, dentre inúmeras outras variantes que interferem no processo de captação de dada mensagem pelo público. Também é preciso ressaltar as diferenças individuais e as características de personalidade que existem entre esses receptores, que fazem com que seja natural pressupor que haverá diferença nos efeitos produzidos a essas mensagens.

No âmbito dos estudos relativos à influência dos meios de comunicação, há inúmeros casos que tentaram explicitar e aplicar de modo empírico estes pressupostos. Dentre os mais notórios, podemos citar O Caso Welles, ocorrido em 30 de Outubro de 1938. Reconhecida como um marco histórico das telecomunicações, a transmissão de A Guerra dos Mundos, encenada pelo grupo de teatro Mercury no Ar, liderado por Orson Welles, entrou para a história por ter levado mais de 1,2 milhão de pessoas a um delírio paranóico, em uma descrição de um ataque de Marte à Terra.

A percepção era de que os eventos durante a transmissão ocorriam ao vivo, embora não passasse de uma dramatização em formato jornalístico. Transmitido na véspera do Halloween, o programa foi várias vezes interrompido por diversos boletins de notícias (falsos) que supostamente cobriam os acontecimentos da narrativa de H.G. Wells. A transmissão foi interrompida de forma crescente, criando-se uma tensão cuidadosamente construída através de entrevistas com autoridades e dramáticas descrições dos acontecimentos. Ao final da transmissão o locutor revelou que o programa em caso era uma ficção, mas, apesar do esclarecimento, milhares de americanos se viram aterrorizados pela ameaça extraterrestre, ocasionando uma onda de fugas e medo pelas ruas das principais cidades.

Um caso semelhante ocorreu em São Luís do Maranhão, em 30 de Outubro de 1971, onde um programa da mesma natureza que o exibido por Orson Welles foi ao ar. Diferente do primeiro caso, na ocasião a invasão supostamente ocorria em vários países ao mesmo tempo, para dar veracidade aos relatos. Desde o início do dia, noticias e entrevistas foram propagadas pela rádio a fim de dar base ao programa, onde boletins informativos distribuídos ao longo da transmissão normal do programa criavam a tensão necessária para impressionar os ouvintes. Por meio de estratégias um pouco mais elaboradas do que as de Orson Welles, Sérgio Brito conseguiu repetir a façanha de 1938, de modo que grande parte da população tomou os fatos relatados pela rádio como verídicos.

Fica uma pergunta em ambos os casos: como ninguém teve a idéia de checar os fatos transmitidos durante o programa? Também em ambos os casos a confusão pode ser diretamente ligada à falta de senso crítico, à desinformação de setores da sociedade com baixa escolaridade e à sintonizações tardias dos programas, onde as dramatizações estavam em seu decorrer. Também é impossível negar que, nas duas ocasiões, onde um simples telefonema demorava horas para ser realizado, era pouco provável que as pessoas deixassem de ficar em pânico.

Um episódio parecido dificilmente ocorreria nos dias atuais, devido ao fato de que hoje em dia a comunicação se dá em tempo real. A internet transmite de segundo a segundo tudo o que acontece no mundo, de forma que qualquer informação pode ser facilmente verificada. Além disso, contamos com uma vasta diversidade de meios de comunicação e de telecomunicação rápida entre as pessoas. De qualquer forma, esses episódios comprovam o inegável poder da comunicação. Independente de contexto histórico ou econômico, o jornalista deve se atentar para a responsabilidade que carrega ao levar informações à população, que tende a acreditar em tudo que é veiculado. Não nas medidas que ocorreram em 1938 e 1971, mas sem o conhecimento do poder que o jornalista possui, muitas noticias poderiam se transformar em imensas confusões.

DIGA NÃO À VIOLÊNCIA INFANTIL


* Texto confeccionado em 05 de Maio de 2008.

Para maiores informações sobre o caso Isabella Nardoni, clique aqui.

A tragédia de Isabella causou comoção nacional, ganhou todas as manchetes de jornais, internet, rádio e televisão. Muitas outras histórias de violência doméstica infantil, (não como essa, que como eu já mencionei, em minha opinião é de cunho patológico) acontecem todos os dias. São histórias reais que atingem grande parte da população sem que se tornem objeto de interesse público. Quantas Isabellas já foram vítimas de violência e as pessoas não sabem? Até quando este “ar de indignação” tomará conta da população durante dias, sem que nada seja feito, até o dia em que uma nova manchete chame a atenção?

Há uma violência infantil invisível. Muitos pais e responsáveis se acham no direito de agredir as crianças, como se fossem seus donos, com a frágil desculpa de que estão educando-as. Este é um assunto que tem que ser levado a sério, que deve ser trazido para um debate nacional.

Essas crianças precisam ser protegidas por lei. É inadmissível esta violência doméstica infantil, chegando à tragédia de atirar uma criança pela janela. Estes seres desprotegidos estão submetidos a todo tipo de violência física, psicológica, sexual, e isso não acontece só no Brasil. O que existe na verdade é um problema mundial que deve ser considerado como um tema de grande preocupação de todos os poderes e instituições.

É preciso conscientizar a população. Todo o cidadão deve se sentir responsável por cada criança deste país, denunciando qualquer tipo de violência. Atitudes como essas colaborariam para que menos casos de violência contra as crianças passassem despercebidos, invisíveis aos olhos da população e Estado. Toda esta cadeia de maus-tratos que ocorre por debaixo dos panos é motivo de repulsa. A criança precisa ser respeitada e protegida, vista como prioridade absoluta já que é símbolo do futuro. É este o futuro que população e governo desejam ter?

A INDÚSTRIA DE CATARSES

* Texto confecionado em 28 de Abril de 2008.

Para maiores informações sobre o caso de Josef Fritz, clique aqui.

Quando li a respeito do caso do austríaco Josef Fritz fui tomada por um enorme sentimento de repulsa, o mesmo que sentira pouco tempo atrás quando as primeiras manchetes sobre o caso de Isabella começaram a estampar a capa dos jornais. Como um pai - se é que nesse caso cabe o uso deste substantivo - poderia trancar sua própria filha em um porão durante 24 anos? Como um pai pôde ter estuprado essa mesma filha, tendo com ela seis filhos, tornando-se “pai-avô” das crianças? Pior ainda, como tudo isso pôde passar despercebido aos olhos da mulher de Fritz, dos vizinhos e da sociedade? Confesso que uma mistura de choque, indignação e ânsia por justiça são sentimentos quase inevitáveis sob esses questionamentos, e que por poucos instantes me vi quase que nadando, com bóia e tudo, na piscina de notícias sensacionalistas à qual somos submetidos constantemente pelo atual jornalismo.

Não demorará para que notícias acerca desse caso, igualmente trágico e extremo, tomem conta de todos os tipos de mídia, a exemplo do caso Isabella. Visões privilegiadas, coberturas inéditas e revelações arrebatadoras aparecerão aos montes, numa espécie de venda de camarotes VIP – “assista do melhor ângulo a cobertura de todos os acontecimentos”. Meu deus, será que as pessoas não irão acordar para o fato de que a violência doméstica , que é muito mais freqüente do que se imagina e muito menos debatida pela mídia do que deveria, não ocupa o espaço que um caso como este – de evidente psicopatologia – ocupa na imprensa? Estes dois acontecimentos são de fato exceções, não só pela sua brutalidade, mas principalmente por se tratar de casos onde os distúrbios psicológicos desses pais ficam claros.

Casos de psicopatologia não devem ser usados como parâmetro para a discussão da população acerca da violência doméstica, pois resulta de problemas psiquiátricos, não massivos. Comportamentos como o de jogar uma criança pela janela ou o estupro de uma filha, mantendo-a em cativeiro por tantos anos, a meu ver não podem ser apenas desvios de conduta. Resta desses casos apenas o sensacionalismo que visa à venda de mídia sem finalidade social.

Crimes como esses devem sim ser punidos com rigidez, mas deve-se atentar a importância que a mídia dá a estes, com o único intuito de provocar uma verdadeira catarse, visando o lucro, e não o jornalismo sério.

EXERCÍCIO NOTÍCIA: "O MONSTRO DA MAMADEIRA"

* Texto produzido em 18 de Março de 2008, baseado em um caso real ocorrido em 2006, onde uma mulher, posteriormente inocentada, teria matado a filha. Notícia confeccionada com cunho acadêmico, possuindo informações fictícias, como alguns dos incidentes citados e os nomes dos envolvidos.

Para maiores informações sobre o caso, veiculadas pela mídia na época, clique aqui.

Laudo inocenta mãe acusada de matar filha

Fernanda Messias, conhecida como o monstro da mamadeira, foi solta após ter ficado 45 dias na prisão, onde foi espancada. O laudo definitivo descartou qualquer possibilidade de Fernanda ter envenenado a filha com cocaína.

Fernanda Messias foi libertada da prisão de Pindamonhagaba ontem dia 17 de Março, após ser acusada injustamente pela morte da filha Victória, de apenas 1 ano e três meses. O laudo emitido ontem pelo Instituto de Criminalística, realizado a partir do material colhido na boca e na mamadeira da criança, negou o uso da substância.

O alvará de soltura foi concedido ontem pelo juiz da Vara do Júri e da Infância e Juventude de Taubaté, Marco Antonio Montemor. Fernanda chorou ao abraçar os familiares que a esperavam do lado de fora da penitenciária, antes de se dirigir ao cemitério para visitar o túmulo da filha. Fernanda pretende entrar na justiça para saber se a filha morreu por omissão de socorro ou por morte natural.

Victória se encontrava internada devido a uma doença ainda não diagnosticada. No dia 24 de Janeiro a mãe da menina foi estuprada no hospital, onde, em estado de choque, foi atendida. Fernanda acusou um quintanista do corpo de residentes do hospital pelo estupro. "Ele me ameaçava e dizia, enquanto me estuprava, que sabia que eu precisava do hospital para cuidar da minha filha", relatou.

Após um pó branco ter sido encontrado no pescoço de Victória, um laudo provisório levou à prisão em flagrante de Fernanda no dia da morte da menina. Durante o período em que ficou presa Fernanda foi espancada, tendo a mandíbula quebrada. Devido às pancadas que sofreu contra as grades da cela, a mãe da criança também sofreu hematomas no corpo e lesões na cabeça. Uma presa chegou a enfiar uma caneta no ouvido de Fernanda, perfurando seu tímpano. Com a acusação proferida à Fernanda qualquer denúncia que ela teria feito contra o médico que a estuprou se tornou desqualificada.