SEJAM BEM-VINDOS!

SEJAM BEM-VINDOS!
Filha de jornalista, foca e apaixonada pela profissão que escolhi. Criei este blog com o intuito de publicar os textos confecionados por mim durante o meu curso na faculdade. Fiquem à vontade para deixar sugestões, críticas e elogios!

segunda-feira, 29 de junho de 2009

O MITO DA DEMOCRACIA RACIAL E A FÁBULA DAS TRÊS RAÇAS


* Texto confeccionado em 03 de Junho de 2009.

A expressão “democracia racial”, segundo Guimarães, estudioso do assunto, teria surgido em discursos intelectuais da década de 30. O termo foi oficialmente empregado pela primeira vez por Arthur Ramos, em 1941, durante um seminário de discussão sobre a democracia no mundo pós-fascista, mas é apenas nos anos 50 que a crença na democracia racial tornou-se consenso. Na década seguinte, esta crença atingiu seu ápice, designando um ideal de igualdade e respeito que foi incorporado à fala de intelectuais e universitários por todo o Brasil, como uma cura para o trauma da escravidão negra.

Paradoxalmente aos altos índices que apontam as desigualdades raciais existentes no país atualmente, a disseminação e a aceitação da democracia racial foi utilizada até mesmo pelo movimento negro na década de 40 e transformada em uma doutrina, a servir de lição e modelo para outros povos.

No Brasil, nunca houve uma segregação legalizada entre brancos e negros, como já ocorreu nos EUA e na África do Sul. Além disso, o nível de miscigenação é tão grande no país, que estima-se que 86% da população carregue pelo menos 10% de DNA africano. O fato é que, esses e outros fatores, levaram as pessoas a mitificar o Brasil como sendo um paraíso racial.

Desde o primeiro encontro entre o colonizador português, o escravo africano e o nativo indígena, a fábula das três raças é contada de geração a geração, propagando o fato de que o povo brasileiro é resultante da mistura entre brancos, negros e índios. Essa idéia traz em sua essência a crença de que o Brasil, fruto desta mistura, é um lugar onde as relações ocorrem de forma harmônica e pacífica, em um verdadeiro éden de respeito racial e humano.

Outros autores também apontam para a tese do “branqueamento” da população brasileira como catalisador da idéia do mito. Segundo essa tese, a partir da mistura da raça branca (superior) e da raça negra (inferior), haveria um melhoramento da genética dos brasileiros. Este ideal de branqueamento foi incutido na sociedade brasileira ao longo de toda sua história, de tal maneira, que levou o próprio negro à sua autonegação, levando a uma fragmentação das identidades raciais no país.

Positivo ou não, o fato é que essa situação possibilitou às elites brasileiras, que comandavam o país, difundir a idéia de que o Brasil era livre de preconceitos e discriminação racial. As circunstâncias histórico-sociais apontadas fizeram com que esse mito manipulasse os mecanismos sociais através da defesa dissimulada de atitudes, comportamentos e ideais aristocráticos da raça “dominante”.

O mito da democracia racial possibilitou que uma das formas mais perversas de racismo se propagasse no Brasil, aquela mascarada pelo status democrático, cuja aceitação e compreensão das diferenças não passam de pura dissimulação.

Alguns estudiosos apontam que este mito teria sido um dos mecanismos de dominação ideológica mais poderosos produzidos no país, tanto que, apesar de toda a crítica que a ele foi feita, o mito permanece bem atual.

Para Florestan Fernandes, os mitos nascem para tentar mascarar uma realidade e acabam por revelar a realidade íntima de uma dada sociedade. Dados estatísticos apresentados por instituições de renome, como o IBGE e o IPEA, não deixam dúvidas sobre a gravidade da situação vivenciada pela polução negra e indígena no Brasil.

É preciso que, mais que um mecanismo cínico e cruel de manutenção das desigualdades sócio-econômicas, o mito da democracia racial sirva como ideal para transformações profundas em nossa sociedade, visando diminuir a distância entre os discursos igualitários e a sua prática. Mais que isso, é preciso que se pare de falar em democracia racial, para falarmos tão somente em democracia, que inclui a todos sem menção de raças. Porque indicar incessantemente um modelo do que deveria ser, se mais fácil é apontarmos o que não deveria existir – o racismo?

Bibliografia:

FERNANDES, Florestan, O Mito Revelado, art. Publicado em Folhetim de São Paulo, 1980, reeditado na Revista Espaço Acadêmico Ano II nº 26 – 2003.
GUIMARÃES, Antonio Sérgio. Classes, raças e democracia. São Paulo: Editora 34, 2002.
DA MATA, Roberto – “A Fábula das 3 Raças ...” in Relativizando. RJ, Rocco, 1987.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

FIM DA OBRIGATORIEDADE DO DIPLOMA DE JORNALISMO: SERÁ QUE FOI A ESCOLHA CERTA?

*Texto publicado no blog do Leandro Fortes, aqui.

"O fim da obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo é uma derrota para a sociedade brasileira, não esta que discute alegremente conceitos de liberdade de expressão e acredita nas flores vencendo o canhão, mas outra, excluída da discussão sobre os valores e os defeitos da chamada “grande imprensa”. São os milhões de brasileiros informados por esquemas regionais de imprensa, aí incluídos jornais, rádios, emissoras de TV e sites de muitas das capitais brasileiras, cujo único controle de qualidade nas redações era exercido pela necessidade do diploma e a vigilância nem sempre eficiente, mas necessária, dos sindicatos sobre o cumprimento desse requisito.

Tenho ouvido, há anos, como continuei ouvindo, hoje, quando o STF decidiu por oito votos a um acabar com a obrigatoriedade do diploma, essa lengalenga interminável sobre os riscos que a liberdade de expressão sofria com a restrição legal a candidatos a jornalistas sem formação acadêmica específica. Esse discurso enviesado de paixão patronal, adulado aqui e ali por jornalistas dispostos a se sintonizar com os sempre citados países do Primeiro Mundo que não exigem diploma, gerou uma percepção falaciosa, para dizer o mínimo, de que para ser jornalista basta apenas ter jeito para a coisa, saber escrever, ser comunicativo ou, como citou um desses ministros do STF, “ter olho clínico”. Foi baseado nesse amontoado de bobagens, dentro de uma anti-percepção da realidade do ofício, que se votou contra o diploma no Supremo.

Conheço e respeito alguns (poucos) jornalistas, excelentes jornalistas, que sempre defenderam o fim do diploma, e não porque foram cooptados pelo patronato, mas por se fixarem em bons exemplos e na própria e bem sucedida experiência. São jornalistas de outros tempos, de outras redações, de outra e mais complexa realidade brasileira, mais rica, em vários sentidos, de substância política e social. Não é o que vivemos hoje. Não por acaso, e em tom de deboche calculado, o ministro Gilmar Mendes, que processa jornalistas que o criticam e crê numa imprensa controlada, comparou jornalistas a cozinheiros e costureiros ao declarar seu voto pelo fim da obrigatoriedade do diploma. É uma maneira marota de comemorar o fim da influência dos meios acadêmicos de esquerda, historicamente abrigados nas faculdades de jornalismo, na formação dos repórteres brasileiros.

Sem precisar buscar jornalistas formados, os donos dos meios de comunicação terão uma farta pescaria em mar aberto. Muito da deficiência dessa discussão vem do fato de que ela foi feita sempre pelo olhar da mídia graúda, dos jornalões, dos barões da imprensa e de seus porta-vozes bem remunerados. Eu, que venho de redações pequenas e mal amanhadas da Bahia, fico imaginando como é que essa resolução vai repercutir nas redações dos pequenos jornais do interior do Brasil, estes já contaminados até a medula pelos poderes políticos locais. Arrisco um palpite: serão infestados por jagunços, capangas, cabos eleitorais e familiares.

O fim da obrigatoriedade do diploma vai, também, potencializar um fenômeno que já provoca um estrago razoável na composição das redações dos grandes veículos de comunicação: a proliferação e a expansão desses cursinhos de trainee, fábricas de monstrinhos competitivos e doutrinados para fazer tudo-o-que-seu-mestre-mandar. Ao invés de termos viabilizado a melhoria dos cursos de jornalismo, de termos criado condições para que os grandes jornalistas brasileiros se animassem a dar aulas para os jovens aspirantes a repórteres, chegamos a esse abismo no fundo do qual se comemora uma derrota.

De minha parte, acho uma pena."

CONCORDO EM GÊNERO, NÚMERO E GRAU. É UMA PENA, ENORME. TRISTE.

domingo, 14 de junho de 2009

EXERCÍCIO OBITUÁRIO - MADONNA

* Texto confeccionado em 20 de Maio de 2009, com cunho acadêmico e visando o exercício da produção de um obituário. Madonna, felizmente, se encontra mais viva do que nunca!

MAJESTADE DO POP DEIXA SEU TRONO

Madonna Louise Ciccone, cantora, atriz, produtora cinematográfica, compositora, dançarina, escritora e produtora musical, morreu hoje, aos 50 anos, de parada cardiorespiratória. A assessoria de Madonna relatou que a diva do pop se exercitava quando subitamente passou mal, teve convulsões e foi levada ao hospital hospital UCLA Medical Center localizado na Califórnia, com uma grave arritmia.

Filha de descendentes italianos, Madonna nasceu em 16 de Agosto de 1958, em Michigan. Leonina, polêmica e de personalidade controversa, a artista com mais de 20 anos de carreira sólida recebeu o mesmo nome da mãe, que morrera de câncer quando Madonna tinha apenas cinco anos de idade.

A rainha do pop declarou em seu documentário - “Truth or Dare: In Bed With Madonna” – que não estava interessada em ser a melhor cantora ou a melhor dançarina, mas em acionar um botão provocativo e político nas pessoas. Madonna sempre colocou em evidência questões polêmicas, questionando (pré) conceitos e deixando inúmeras discípulas que tentam, em vão, dominar uma arte que há décadas Madonna vinha exercendo com maestria: a arte de chocar.

Ainda na adolescência, Madonna iniciou seus primeiros passos na dança, contrariando a vontade do pai, que queria que a filha estudasse piano. Sexualmente curiosa, perdeu a virgindade aos 15 anos com Russel Long, possivelmente no Cadillac 1966 azul que o namoradinho de colégio possuía. Na mesma época, Madonna também teve experiências homossexuais, e, mais tarde, quando já morava sozinha em Detroit para estudar dança, não hesitou em trabalhar como garçonete e fazer ensaios nus para se sustentar. O viés sexual de Madonna sempre foi uma de suas características mais marcantes como popstar.

Em 1979, aos 21 anos, a artista conquistou uma bolsa integral para estudar dança na Universidade de Michigan. Ainda no mesmo ano acompanhou o cantor Patrick Hernandez como bailarina e backvocal, atuando em seu primeiro filme, “A Certain Sacrifice”, pornô pelo qual recebeu cem dólares. De fato, um sacrifício, para quem 30 anos mais tarde teria um patrimônio avaliado em cerca de U$ 1 bilhão.

Em 1983, Madonna lançava seu primeiro álbum, fazendo grande sucesso com músicas como “Holiday” e “Lucky Star”. Um ano mais tarde, depois de ter lançado o segundo álbum, “Like a Virgin”, a jovem cantora participou da primeira cerimônia do MTV Vídeo Music Awards, em Nova Iorque. Na ocasião, ao som da música que dava título ao álbum, de bustiê branco, saia de tule e véu, Madonna se contorcia em posições sexuais no topo de um gigantesco bolo de noiva.

Billy Steinberg, co-autor da canção, ficara atordoado, juntamente com o público presente e a apresentadora Bete Middler. Surpreendentemente, as linhas telefônicas da emissora ficaram congestionadas. Billy posteriormente afirmou que “quando uma coisa espontânea, forte e verdadeira como aquela aparece, as pessoas simplesmente adoram”. O co-autor da música da estrela parecia estar certo. O fato é que partir daí a fama de Madonna tornou-se definitiva e seu segundo álbum vendeu mais de 8 milhões de cópias, transformando a artista em ícone para os adolescentes, que começaram a imitar seu visual.

Franca, Madonna flertava abertamente, sendo por isso diversas vezes rotulada como uma mulher vulgar. Mesmo afirmando que só dormia com namorados estáveis e que nunca foi promíscua, a popstar não escapou de um questionamento muito comum durante sua carreira: Seria Madonna prostituta em busca de publicidade, que cantava uma música pop medíocre ou uma artista inteligente e inovadora, que caía no gosto das massas com a mesma velocidade e intensidade com que era criticada?

Durante as gravações do clipe da música “Material Girl”, em 1984, Madonna conheceu seu primeiro marido, Sean Peann, de quem se separou quatro anos depois alegando “diferenças irreconciliáveis”. No mesmo ano do divórcio, a estrela lançou seu famoso álbum “Like a Prayer”, que gerou imensa polêmica juntamente ao clipe da música que dava título ao disco.

No vídeo em questão, Madonna aparecia entre cruzes em chamas e beijando Jesus, que era representado por um homem negro. A obra foi banida pelo Vaticano e um de seus shows foi cancelado na Itália em razão do boicote proposto pelo Papa João Paulo II, acarretando à estrela a perda de um contrato importante com a Pepsi. Mesmo acusada de herege, Madonna sempre seguiu um ritual de oração antes de cada apresentação desde sua primeira turnê.

Um ano depois, ganhou o Oscar de melhor canção por “Sooner or Later”, trilha do filme “Dick Tracy” em que atuava. Na ocasião da premiação Madonna chegou caracterizada de Marilyn Monroe ao lado de Michael Jackson. Na mesma época, a turnê “Blond Ambition” intensificou ainda mais o sucesso da popstar, que logo lançou seu debatido documentário “Na cama com Madonna”. Na obra, além de bastidores de sua turnê, Madonna aparece em cenas controversas onde simula sexo oral com uma garrafa.

Quando o debate sobre o documentário já havia sido ofuscado por músicas de grande sucesso como “This Used to be my Playground”, a diva do pop gerou nova polêmica com o Livro “Sex”, lançado em 1992. “Erotica”, seu álbum lançado na mesma época, perdeu espaço para o debate acerca das 128 páginas do livro, que continha cenas de nudez, lesbianismo, sadomasoquismo e até zoofilia. Em 1993, o Brasil pôde ver a popstar pela primeira vez, em sua turnê “The Girlie Show”, com direito até a Madonna – com blusa do Brasil – cantando “Garota de Ipanema”.

Já em 1995, mesmo sob os inumeráveis protestos dos argentinos, Madonna estrelou o filme “Evita” ao lado de Antonio Banderas, que, coincidência ou não, caiu no gosto de Hollywood apenas depois de aparecer no falado documentário de Madonna quatro anos antes. Sua interpretação no filme lhe rendeu o Globo de Ouro de melhor atriz de musical ou comédia e a canção “You Must Love me” ganhou um Oscar. Em meio a esses acontecimentos, a estrela anunciou que estava grávida de seu ex personal trainer Carlos León. Em 14 de Outubro de 1996, nascia Lordes Maria Ciccone León, primeira filha da cantora.

Em 2000, logo após o sucesso de seu disco “Ray of Light”, a estrela casou-se com Guy Ritchie, cineasta britânico. Fora dos palcos, Madonna assumia os papéis de mãe, esposa e até mesmo de escritora de livros infantis. Fruto de seu segundo casamento, Rocco Ritchie nasceu ao mesmo tempo em que o álbum “Music” repetia o sucesso já comum à artista. Madonna, que já havia deixado explícito seu lado materno, ainda viria a adotar em 2007 seu terceiro filho, David Banda, em Malawi, em um processo bastante conturbado e discutido pela mídia.

Em 2003, Madonna relembrou seu gosto por polêmicas no MTV Vídeo Music Awards, beijando a cantora Britney Spears durante uma apresentação. No mesmo ano a artista lançou o álbum “American Life”, que apesar de ser dono da menor marca de vendas da popstar, serviu para confirmar a postura não conformista de Madonna, que acusava no disco os padrões de vida americanos.

Depois do lançamento do CD “Confessions on The Dancefloor”, Madonna passou pelo seu segundo divórcio, terminando em 2008 com um casamento de oito anos. No mesmo ano, a estrela finalmente retornou ao Brasil com sua turnê “Sticky and Sweet Tour”. Durante sua estadia em terras tupiniquins, Madonna conheceu o modelo brasileiro Jesus Luz, com quem se envolveu gerando nova polêmica, já que o rapaz era 30 anos mais jovem que a artista.

A popstar, que atualmente seguia a doutrina da Kabbalah, teria se impressionado com a fé do modelo, que também seguia a religião antes mesmo de conhecê-la. Este encantamento, conflitante ou não com a Madonna conhecida por exalar sensualidade pelos poros, só veio a realçar que a artista sempre foi sinônimo de controvérsia, polêmica e sucesso.

Apesar de ser tida como autoritária e falastrona, amigos íntimos descreviam Madonna como alguém sensível e confusa. Em meio a tantos tumultos e questionamentos em que a estrela se envolveu durante sua carreira, uma certeza sempre a acompanhava: “Mesmo quando era pequena, eu já sabia que queria que todo o mundo soubesse quem eu era, que me amasse e que fosse afetado por mim." – relatou à revista “People”, em 13 de Maio de 1985.

Parece que nem Madonna podia prever que sua vontade fosse se cumprir de maneira tão rápida e sólida. A cantora relatou, quando sua turnê “Blond Ambition” terminou e todos os envolvidos estavam permeados em tristeza e despedida, que não sentia nada. “É como quando alguém está morrendo e você se prepara, faz sua paz interior antes que a pessoa morra. É como um mecanismo de defesa.”, relatou. Infelizmente, ninguém pôde se preparar para uma morte tão súbita e prematura.

A Rainha do Pop, que certa vez declarou desejar viver para sempre, deixou 3 filhos, o maior patrimônio conquistado por uma cantora na história e um feito inigualável em sua biografia – o de ícone musical pop absoluto por mais de 3 décadas, e quem sabe, por muitas outras que ainda virão.