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Filha de jornalista, foca e apaixonada pela profissão que escolhi. Criei este blog com o intuito de publicar os textos confecionados por mim durante o meu curso na faculdade. Fiquem à vontade para deixar sugestões, críticas e elogios!

quarta-feira, 27 de maio de 2009

1968 E AS DROGAS


* Texto confeccionado em 20 de Junho de 2006.

UTOPIA DA EXPERIMENTAÇÃO

“Sou uma pessoa organizada. Guardo meias na gaveta de meias e drogas na caixa de drogas” (George Harrison – Beatles – Em 1968, comentando uma batida policial em sua casa).

Rock de contestação no rádio, posters dos Beatles e dos Rolling Stones nas paredes de seus quartos, idolatria por Che Guevara, Marx e Marcuse; cigarro com filtros de um lado, maconha no outro; uma câmera fotográfica na mão, idéias imcompletas na cabeça. Seu visual inovador, colorido, se contrasta com as tradicionais cores discretas como o preto, o branco e o cinza; os cabelos longos se consagraram em oposição ao corte militar; as barbas compridas; o coração tomado por uma sede de mudanças. Esse poço de contradiões era o jovem de 68. Utópico, sonhador.

As mentes dos garotos e garotas estavam povoadas por projetos coletivos de transformação da sociedade. Existia uma ânsia pelo novo. Esta geração não se acomodou e lutava avidamente contra qualquer tipo de autoritarismo, sonhando com um mundo de paz regido pelo imaginário e livre de qualquer repreessão. Havia uma explosão de sexualidade e de busca pelo prazer.

Era a hora de experimentar. A geração de 68 experimentou todos os limites possíveis, sejam eles de cunho político, social ou comportamental. Segundo Zuenir Ventura, autor do best seller 1968 – O ano que não terminou, “Experimentava-se em todas as áreas, quase sempre pelo simples prazer da descoberta”. Essa descoberta se dava pelos gestos de liberdade sexual, pelo inconformismo com os valores existentes e, principalmente, pelas experiências com drogas.

O uso de drogas é uma prática adotada desde a antiguidade. O seu consumo, na maior parte dos casos, estava intimamente ligado às tradições culturais e religiosas dos povos. As plantações de Coca (planta que dá origem à Cocaina), por exemplo, eram comuns por volta do século XV, cultivadas como qualquer outro gênero agrícola. No final do século XIX surgiram grupos de religiosos que iniciaram movimentos em defesa da proibição das drogas, estabelecendo- as como inimigas do puritanismo pregado como um dogma pela religião.Até o início do século XX as drogas ainda eram livremente comercializadas, mas Segundo Rodrigues (2003), o debate sobre o consumo destas substâncias começou a se intensificar no começo deste mesmo século, nos EUA.

“A proibição do comércio de drogas é estabelecida apenas em 1914 nos EUA e em 1921 no Brasil. Segundo essas novas diretrizes instituia-se a figura do traficante e do viciado como alvos de perseguição. O primeiro deveria ser encarcerado e o usuário, considerado doente, deveria ser tratado." (RODRIGUES,2003,p.30). A partir daí o uso de drogas passou a ser considerado como um ultraje às tradições da sociedade conservadora.

O que ocorre a partir de 68 é uma reviravolta na forma de encarar as antigas instituições que davam base à esta sociedade, incluindo uma nova forma de ver a utilização das drogas. Houve uma espécie de utopia ingênua, de forma que se acreditava que as drogas seriam um caminho para a ampliação do conhecimento, de autoconhecimento, de liberação da sensibilidade e da sexualidade e de expansão da consciência. A droga foi mitificada como a “chave para as portas da percepção”. O livro de Aldous Huxley, com esse título, de 1954, influenciou vários jovens. As drogas atuariam nas terminações nerovas – sinapses – permitindo uma maior percepção dos sentidos externos e internos.

Naquela época, as esquerdas brasileiras eram, em geral, muito “caretas” a esse respeito. As drogas circulavam mais na cultura americana do que nas outras. A partir dos anos 70 seu consumo se espalhou pelo mundo inteiro e se generalizou, principalmente com o movimento de contra-cultura protagonizado pelo movimento hippie.

O surgimento dos hippies coincide com o auge do sentimento de repudia dos jovens à Guerra do Vietnã. Nenhum outro acontecimento desde a Guerra de Secessão (1861-1865) causou tamanha divisão na opinião pública dos EUA. Os conservadores e a chamada “maioria silenciosa” acreditavam que era uma guerra justa e nobre, de forma que os americanos estavam a impedir uma ameaça comunista.

A juventude universitária, os intelectuais e os escritores não concordavam como esses argumentos. A duração e a proporção do conflito no Vietnã tinham chamado atenção. Para eles, a maior potência do mundo queria impor seu poderio à um pequeno país da Ásia, recorrendo a pretextos pseudo-humanitários que serviam de máscara para os bombadeios, massacres e várias outras atrocidades presenciadas na guerra. Uma crescente crítica não só a ação militar mas aos valores globais da sociedade americana foram consequencias dessa nova maneira de pensar.

Os jovens de 68 nos EUA acharam várias maneiras de contestar essa situação, seja pregando a desobediência civil, seja queimando em grandes manifestações públicas as convocações para o serviço militar, seja vestindo brim e trajes de algodão colorido. Nascia o movimento Hippie. O auge do movimento foi o festival de Woodstock, que marcou os valores da geração de 60, divulgando e ampliando o consumo das drogas.

Os jovens desejavam um alívio momentâneo da tensão e frustação causadas pela guerra, e viajavam sob o efeito da maconha, das perigosas bolinhas, do haxixe e de alucinógenos como a psilocibina (alcalóide extraído de um cogumelo) e o LSD. O uso do cigarro de tabaco muitas vezes era considerado prejudicial à saúde, enquanto a maconha e as outras drogas eram mais exaltadas devido a sua natureza ilícita, de quebra às antigas normas de conduta. Na procura de “Lucy in the Sky with Diamonds” personalidades como Jimi Handrix e Janis Joplin não encontraram o caminho de volta.

A literatura desses jovens passava desde Herman Hesse, cujos livros centravam-se em histórias orientais de iniciação e técnicas visando à introspecção e à meditação nirvânica ao poeta Dylan Thomas, um rompedor de regras. O movimento de contra cultura era visto como uma dissociação profunda dos pressupostos básicos da sociedade americana, sendo considerado como uma invasão bárbara de aspecto alarmante. Nos anos 70, o movimento hippie ganhou proporções mundiais, espalhando os slogans de “Paz e Amor” e “Faça Amor, Não Faça Guerra” entre os jovens.

De fato as drogas psicodélicas tiveram uma forte influência no moviemento hippie e nos movimentos de contestação que tomaram conta do globo ao longo do ano de 1968. Na época elas eram utilizadas em largas quantidades e o acesso era muito fácil. Sua popularização permitiu a disseminação dos sentimentos de liberdade revolucionária. O que não era percebido nesta época era o potencial destrutivo destas drogas e suas implicações sociais quando ligadas ao crime organizado.

O efeito do pós-68 foi uma grande depressão, pois os jovens que lutaram de forma tão apaixonada por causas sociais importantes, embalados por suas drogas, tiveram que largar parte da sua luta, envelhecer e lidar com as frustrações do dia-a-dia. Terminadas as revoltas, conflitos, passeatas e festividades psicodélicas de 1968 era preciso retomar a vida; a magia das drogas era finita, tinha a duração do efeito característico de cada substância.

As drogas, atualmente dominadas por multinacionais, são um dos negócios mais rentáveis do mundo. Segundo Zuenir Ventura este seria o pior legado de 68, segundo ele uma “herança maldita”. O uso das drogas pode ser um intrumento de morte, algo extremamente perigoso se não houver respeito e intensão de uso além do “barato”.

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