SEJAM BEM-VINDOS!

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Filha de jornalista, foca e apaixonada pela profissão que escolhi. Criei este blog com o intuito de publicar os textos confecionados por mim durante o meu curso na faculdade. Fiquem à vontade para deixar sugestões, críticas e elogios!

quarta-feira, 27 de maio de 2009

MAIO DE 1968 E O MOVIMENTO ESTUDANTIL


*Texto confeccionado em 30 de Junho de 2008.

Impossível não falar de 68 enquanto o mundo inteiro está engajado nas comemorações dos seus 40 anos. Impossível também não lembrar da importância desse ano mítico, das transformações que ocorreram a partir dele e do seu enorme legado. Impossível não atentar para o fato de que a mobilização política e social protagonizada pelos jovens da época colhem frutos até os dias atuais, servindo de exemplo de luta e conquista para os movimentos estudantis.

0 “meia oito” das transformações

“Foi muita acontecência. Girávamos sem parar. Querendo fazer tudo e estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Uma loucura linda! Tudo era fundamental! Tudo era imperdível! Tudo era urgente! Íamos mudar o mundo. Nem mais, nem menos...”(Abramovich, 1989:31)

“D`éfence d`interdire!” (É proibido proibir). Era esse o grito que se escutava em uníssono nas ruas de Paris e que depois virou slogan de toda uma geração. As fotos em preto e branco escondem as cores reais de 1968. Sangue, o psicodelismo, a luta contra o cinza da realidade. Existia uma ânsia por mudanças. Os jovens de 68 experimentaram todos os limites possíveis, sejam eles políticos, sexuais, experimentais, existenciais ou comportamentais, numa luta ferrenha contra qualquer tipo de imposição. As pessoas estavam dispostas a sair nas ruas, mesmo que sob a ameaça da morte, para alcançar seus objetivos pessoais, políticos e ideológicos. Uma espécie de onda revolucionária tomou conta dos quatro cantos do mundo.

O maio de Paris

“A barricada fecha a rua, mas abre a via”

Uma multidão de jovens está entrincheirada em inúmeras barricadas, o Quartier Latin está tomado. Inúmeros gritos contra o governo são proferidos, “De Gaulle assassino”, as pessoas repetem. A polícia ataca, a primeira barricada, na metade da avenida, cai com pouca resistência. Algumas outras, porém, parecem intransponíveis. Quando a tropa da polícia se aproxima é recebida por milhares de paralelepípedos arrancados das ruas e por dezenas de automóveis incendiados, jogados ladeira abaixo. As pessoas choram, as sirenes rasgam o silêncio da madrugada. Moços e moças estão desesperados por socorro e a guerra prossegue. Esse é o cenário que marca até hoje a memória do Maio de 68.

Neste momento, surgia na França um movimento da juventude contra a sociedade dos seus “pais e avós”, conservadora, antiquada. Existia uma agitação a favor da revolução sexual, da democratização dos costumes, das modificações da Igreja e de uma abordagem existencial da vida. Isso só foi possível devido a uma explosão demográfica pela qual a França não passava desde os tempos do Iluminismo. Em 68, o número de jovens nas universidades era dez vezes maior do que em 1946. Segundo o historiador Alexandre Roche, “Foi esse peso que deu aos jovens a sua força”.

A guerrilha em paris começou dois meses antes na Universidade de Nanterre por um motivo aparentemente sem importância: a reitoria da instituição, onde estudavam cerca de 12 mil estudantes, proibiu que rapazes visitassem moças em seus dormitórios. O jovem judeu-alemão Daniel Cohn Bendit reuniu um grupo de 100 colegas e invadiu a secretaria da Universidade. O incidente foi a principio um fato isolado, mas foi onde nasceu a estrela de Daniel (conhecido posteriormente como Dany Le Rouge – Daniel, o Vermelho) no meio estudantil.

Dia após dia Paris foi palco de embates intermináveis entre a polícia e os manifestantes. A Universidade de Sorbonne também foi palco de várias manifestações. Daniel Cohn Bendit proclamava “A Sorbonne deve transformar-se numa nova Nanterre!”. Após um protesto na Sorbonne, no dia 3 de maio, os conflitos entre os jovens e a polícia deixaram mais de 100 feridos e 500 presos. A escalada da violência em paris culminou com a “Noite das Barricadas”, ocorrida no dia 10 e no dia 24 de Maio. Com os estudantes tentando contaminar os operários, que partilhavam de uma situação precária de trabalho, os sindicatos convocaram uma greve geral. A adesão dos trabalhadores foi surpreendente e o número de grevistas chegou a dez milhões. Toda essa massa, apesar de ter lutas distintas, tinha um mesmo objetivo: derrubar De Gaulle.

O que os estudantes não poderiam prever era que sua gigantesca mobilização ia se desfazer com a mesma velocidade com que foi possível organizar uma das maiores revoluções estudantis já vistas na história. O governo, as empresas e o líderes sindicais entraram em um acordo sobre um aumento dos salários e melhorias das condições de trabalho. Os trabalhadores permaneceram em greve em um primeiro momento, mas os 35% de aumento propostos pelo presidente foram um bom argumento para que os operários abandonassem os estudantes. De Gaulle em nenhum momento se mostrou propenso a renunciar e clamava pela ajuda de seus eleitores. Surpreendentemente, quase um milhão de pessoas demonstraram apoio à De Gaulle e a mobilização estudantil começou a perder sua força. Aos poucos as bandeiras vermelhas e pretas davam novamente lugar às guirlandas tricolores que drapejavam ao vento de uma primavera amena.

“Fora Thimoty”


A Unb foi palco de uma das maiores manifestações estudantis dos últimos anos no Brasil. O motivo? A decoração do apartamento do ex reitor, Thimoty Mulholland, que custou à Universidade aproximadamente R$500 mil reais. O montante teria sido disponibilizado pela Finatec (Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos), a fundação de apoio da Unb encarregada de financiar pesquisas dentro da Universidade. Segundo Fábio Felix, presidente do DCE (Diretório Central dos Estudantes), que liderou o movimento, “Essas fundações abrem precedentes e mecanismos jurídicos para que haja esse tipo de manobra de gastos como aconteceu com o reitor”. O escândalo, somado a uma denúncia sobre cartões corporativos usados pelos servidores da Unb, que somariam R$140 mil reais, causou uma onda de indignação nos estudantes.


Os alunos invadiram a reitoria da Universidade no dia 3 de Abril, exigindo o afastamento imediato dos ex-reitor e vice-reitor, além de uma série de outras reivindicações. Um dos delegados responsáveis pela negociação ocorrida no ato da ocupação, avaliava que a manifestação deveria durar até o início da noite da invasão, diante da “exaltação dos ânimos”. Mal sabia ele que a reitoria ficaria ocupada pelos estudantes por longos 15 dias.

A polícia federal tentou intervir na manifestação. A juíza Cristiane Pederzolli, da 17ª vara do DF, entrou com um processo de reintegração de posse. Por descumprir uma ordem judicial os estudantes deveriam pagar R$5 mil diários de multa, mas isso não foi suficiente para que eles abandonassem a causa. “A Polícia Federal é uma polícia que deve lutar contra a corrupção e a gente estava fazendo justamente isso. Seria vergonhoso para a Polícia Federal desocupar estudantes que estavam denunciando a corrupção”, afirmou Fábio Felix. Apesar de a polícia não ter efetivamente cumprido a ordem da juíza, a água e a luz do prédio foram cortadas.

No dia 7 de Abril cerca de 300 estudantes ocuparam todo o prédio da reitoria. Isso se deu depois de uma Assembléia realizada na Unb que reuniu cerca de 1,3 mil alunos. Os manifestantes passaram de sala em sala convocando outros alunos a aderirem ao movimento. Para o presidente do DCE, a ocupação acabou agregando na universidade um apoio do estudante do dia-a-dia, não só do estudante militante. Segundo ele, passaram pela manifestação até 8 mil estudantes, refletindo o que o estudante que estava em sala de aula pensava.

No dia 9 de Abril foi feita uma nova Assembléia, onde, segundo os organizadores, haviam mais de mil alunos. No dia anterior o Ministério Público do DF tinha entrado com uma ação de improbidade administrativa contra o reitor. Servidores de universidades federais de outros estados e a UNE (União Nacional dos Estudantes) apoiaram o movimento. Na Assembléia realizada no dia 14, Lúcia Stumpf, presidente da UNE, havia informado que pelo menos 28 universidades brasileiras iam promover manifestações pelo fim das fundações e pela realização de eleições paritárias nas universidades (algumas das reivindicações partilhadas também pelos estudantes da Unb).

A exoneração do reitor Thimoty Mulholland acabou sendo publicada no dia 16 de Abril e o professor de direito aposentado Roberto Aguiar assumiu o cargo de reitor interino. A multa de R$ 5 mil reais diários que os alunos deveriam pagar foi retirada. Os estudantes desocuparam a reitoria no dia 18 de Abril, mas Félix garantiu: “Desocupamos a reitoria para ocupar toda a Universidade. A nossa tarefa é pressionar e trabalhar para que a nossa pauta seja garantida e para que o estudante seja respeitado, para que possa ter voz e vez na Universidade”.

Maio de 68 X Unb

O que o maio de 68 na França tem a ver com a ocupação da reitoria da Unb? A princípio, dois acontecimentos tão distantes e com proporções tão diferentes parecem mesmo não se conectar. Apesar de Gaulle ter permanecido no poder, em 68, a estabilidade de seu governo se mostraria frágil. Em 69 o então atual presidente da França acabou renunciando e a luta vivenciada em maio permitiu uma série de possibilidades jamais imaginadas. Os estudantes da Unb conseguiram fazer das suas vozes um instrumento de luta e o reitor Thimoty Mulholland foi retirado de seu cargo. Nos dois acontecimentos foi a força dos estudantes que permitiu mudanças efetivas em suas realidades. As ocupações de reitorias na atualidade aproximam os estudantes brasileiros do Maio de 68, principalmente na sua etapa inicial, onde houveram invasões na Universidade de Nanterre. A luta por mudanças é uma conexão básica entre os dois acontecimentos, segundo Fábio Félix.

Os estudantes são atores importantes na vida de um país. Eles foram protagonistas de grandes transformações ao longo da história e maio de 68 não é o único exemplo. A importância dos movimentos estudantis dentro de uma instituição de ensino é fundamental. Para Walter, Coordenador do curso de Jornalismo do Iesb (Instituto de Educação Superior de Brasília), esses movimentos são primordiais para que o aluno conquiste seu espaço e exerça suas vontades, a exemplo do movimento realizado na Unb.

Infelizmente, se tornou comum no Brasil a idéia de que o movimento estudantil no Brasil está “morto”. O presidente do DCE da Unb não concorda com essa afirmação e diz que o movimento estudantil sempre funcionou, mas que talvez a mídia não tenha mais dado tanto foco para este depois do estabelecimento do estado democrático. “Eu acho que a ocupação da reitoria da USP no ano passado, o “Fora Collor” e as mobilizações contra FHC na década de 90 demonstram isso”, afirma Felix. Segundo ele a ocupação da reitoria e algumas ações mais radicalizadas tem um foco maior e ajudam a dar crédito para a luta e para a mobilização social como instrumentos de mudança da realidade. “As pessoas voltam a acreditar, serve para dar um ânimo novo”,diz.

Realmente reitorias das universidades da USP, Unicamp, Unesp e PUC-SP foram ocupadas no ano passado em atos de oposição ao decreto que alterava a autonomia universitária (Reuni). Segundo Fábio Felix a ocupação das reitorias é um instrumento que é usado pelos estudantes, não agora, mas há muitos anos. Nessas manifestações os estudantes agem de forma independente à outras manifestações ou segmentos da sociedade, numa luta contra a corrupção e pela conquista de várias reivindicações. Essas ações foram realizadas por grupos de alunos que atuavam por uma espécie de “voto” da maioria, através de Assembléias. Os blogs também tiveram uma atuação emblemática nestes últimos acontecimentos, se configurando como uma das principais formas de divulgação da luta dos estudantes.

Dessa forma é preciso repensar a idéia da apatia e da alienação que supostamente teriam tomado conta do movimento estudantil depois da década de 60. O que existe é uma visível diferença entre os movimentos ocorridos nessa época e as ações atuais: Autonomia. Hoje existe uma manifestação prioritariamente de cunho político-cultural, e não de cunho político-partidário. Apesar de alguns partidos políticos existirem nas organizações dos movimentos estudantis, eles não detêm mais a hegemonia na condução dos atos de manifestação, como ocorreu no passado.

O que os estudantes da atualidade querem é o exercício da ética em suas instituições de ensino. Mais que isso, querem espalhar essa semente “anti-corrupção” entre todos os jovens do país. Ao que tudo indica a luta dos estudantes estava apenas adormecida e não é preciso muito para que o “vulcão estudantil” entre em erupção.

O Movimento Estudantil no nosso dia-a-dia

Afirmar que o movimento estudantil é fundamental não é o suficiente. É preciso que cada instituição de ensino preze pelo amplo funcionamento desses movimentos dentro de sua organização. Será que a nossa Faculdade está cumprindo seu papel? Fomos atrás do Coordenador do curso de Jornalismo, Walter Roberto, para descobrir.

Quando perguntado sobre a existência de algum tipo de movimento estudantil no Iesb, Walter afirmou que um DCE foi criado no ano passado. O aluno Rafael, hoje no sétimo semestre de Jornalismo, teria feito uma chapa e uma eleição com a participação dos dois campus. A chapa organizada por Rafael era única e por isso foi eleita, passando a funcionar numa sala localizada no subsolo, perto da cantina. Infelizmente, segundo Walter, o DCE acabou surgindo com uma energia muito grande que não foi potencializada em reuniões, trabalhos e produtos. “Foram feitas vendas de ingressos para algumas festas universitárias, mas de concreto aqui dentro da instituição foi muito pouco. Se você perguntar para a grande maioria dos alunos, posso arriscar ai que 85% ou mais desconhecem que teve uma eleição, que foi feita uma chapa e que tem um DCE eleito”, afirma.

Walter também apontou que a despeito desse desconhecimento por parte dos alunos, durante a eleição para o DCE da Faculdade foram colocados cartazes nos campus da Asa Norte e da Asa Sul, convocando os alunos para a primeira assembléia e para a convocação das eleições. Infelizmente, mesmo com essa divulgação “poucos alunos do Iesb talvez entendam qual o significado do movimento estudantil”.

Para o coordenador apenas um pequeno grupo de alunos sabe que através desses movimentos pode-se almejar e conseguir uma variedade de coisas. Ele também afirma que a diretora da instituição, a professora Eda, sempre deixou total abertura para que existisse esse tipo de movimento, desde que ele fosse apartidário. “Tem a possibilidade disso ser feito, bem como eventos e congressos, até mesmo com o apoio financeiro da instituição, só que poucos são os alunos que aqui no Iesb se interessam em participar desses movimentos”, diz.

Walter foi recentemente procurado pelo aluno Luís Braga, do 4º semestre de Jornalismo, que estava interessado em saber do processo para a criação de um DCE. O coordenador explicou que existe um DCE, mas que ele não é atuante. “Hoje não existe atuação nenhuma, o espaço que era utilizado por eles, uma sala que ficava fechada 7 dias por semana, hoje está sendo utilizado pela administração para o projeto Jovem Empreendedor”, afirma. Para que novas eleições sejam feitas, o presidente do DCE teria que ser procurado para renunciar ao cargo, já que a eleição efetivamente valeria por dois anos e ainda existiria um período a ser cumprido por esse diretório eleito. Para Walter, uma nova eleição seria de extrema importância para os alunos.

O que fazer diante de um desconhecimento e de uma aparente falta de interesse tão grande por parte dos alunos em uma questão tão essencial? Nunca houve na instituição nenhuma averiguação acerca do interesse dos estudantes sobre esta questão, mas para Walter uma pesquisa nesse sentido valeria a pena. “Alguns cursos tem uma disciplina chamada “Pesquisa de Opinião e Mercado”, onde os professores poderiam adequar os exercícios de sala de aula para que essa pesquisa fosse feita. No 8º semestre de Jornalismo de dois anos atrás, foi feita uma pesquisa em parceria com a Radiobrás para saber a opinião da população de Brasília sobre a Voz do Brasil. O professor Reus também fez recentemente uma pesquisa sobre esportes em Brasília. Então isso pode ser feito, acho que é totalmente viável”, diz.

O que ocorre em grande parte dos casos é que os alunos das Faculdades particulares desconhecem que por estudarem em instituições pagas podem, também, participar desses movimentos. Existe um mito de que isso só é adequado nas instituições públicas. Em meio a tantas dúvidas sobre o interesse e o engajamento dos alunos acerca do movimento estudantil, resta apenas uma certeza: é preciso que algo seja feito. Se olharmos para trás não será difícil perceber a importância do movimento estudantil. Se hoje vivemos em uma democracia, conseguimos feitos como a derrubada de um reitor corrupto, ou até mesmo de um Presidente, é porque outros jovens abriram o caminho para nós. Se não houver uma conscientização nesse sentido, já que a enorme maioria dos estudantes universitários do país estudam em faculdades pagas, quais caminhos as futuras gerações poderão seguir?

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