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Filha de jornalista, foca e apaixonada pela profissão que escolhi. Criei este blog com o intuito de publicar os textos confecionados por mim durante o meu curso na faculdade. Fiquem à vontade para deixar sugestões, críticas e elogios!

quarta-feira, 27 de maio de 2009

TRABALHO INFANTIL

*Texto confeccionado em 18 de Setembro de 2008.

INFÂNCIA ROUBADA

"O que se faz agora com as crianças é o que elas farão depois com a sociedade." (Karl Mannheim)

Lesões nas vértebras e malformações associadas ao transporte de cargas pesadas, doenças relacionadas à atividades insalubres, exposição ao lixo e à substâncias tóxicas, tendência à marginalidade e ao crime, falta de oportunidades, exclusão. Infelizmente esta é a realidade que aflige aproximadamente 245,5 milhões de crianças em todo o globo, segundo a OIT (Organização Internacional do Trabalho). Destas, 179 milhões, ou seja, uma em cada oito crianças no mundo, são vítimas das piores formas de trabalho infantil, que incluem a prostituição, a escravatura, o envolvimento com atividades ilícitas e conflitos armados, o trabalho em locais de risco e outras atividades de cunho forçado.

O Brasil contribui com um percentual alto destas estatísticas. Cerca de 16% das crianças brasileiras estão sujeitas à algum tipo de trabalho. O DF é dono do menor índice de trabalho infantil do país, mas mesmo assim, o número de crianças e jovens entre 5 e 15 anos que trabalham no estado sofreu aumentos nos últimos anos, segundo o PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, realizada pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Felizmente, algumas providências vêm sido tomadas no intuito de combater esta situação. Foram criados órgãos, alteradas leis e implantadas jornadas escolares ampliadas, bolsas de estudo e programas de geração de renda, em uma tentativa de possibilitar que essas crianças não tenham que sair de casa tão cedo para ajudar no sustento de suas famílias. Além disso,várias instituições privadas, organizações e creches atuam em várias regiões do país, colaborando com a tentativa de erradicação deste tipo de trabalho.

É o caso da Associação dos Voluntários Pró-Vida Estruturada – Viver, localizada na Cidade Estrutural, na periferia de Brasília. A população, em sua maioria catadores de lixo, vive em meio à muito barro, poeira e pobreza. As poucas vias asfaltadas existentes são utilizadas para fazer o transporte do lixo até os aterros sanitários. A Associação Viver está situada atrás de um desses aterros e através do seu trabalho tenta tirar as crianças do lixão, trazendo-as para o âmbito escolar e familiar. A estrutura do local, apesar de precária, permite que muitas crianças sejam abrigadas nos horários em que não estão freqüentando a escola.

Uma das causas determinantes do trabalho infantil no país é a concentração de renda. Além disso, a falta de uma política educacional séria e a precarização das relações de trabalho acabam por agravar ainda mais esse problema. O que acontece é que a sociedade brasileira naturaliza este trabalho como sendo aceitável e as vezes até desejável, tendo em vista que este seria uma alternativa à fome e à miséria. A exemplo disso, a Assistente de Coordenação Pedagógica da Associação Viver, Jackeline Correia de Sousa, acredita que o trabalho infantil na Cidade da Estrutural acontece pela necessidade e pela cultura existente no local.

Rivaldo Segundo Sousa Aguiar, 7 anos, hoje protegido pela associação, sabe muito bem qual é a realidade vivenciada no lixão. “Sempre trabalhei desde que me entendo por gente”, afirma o garoto que recolhia e carregava materiais de plástico numa jornada de aproximadamente 13 horas diárias. Rivaldo começou a freqüentar o lixão com 3 anos de idade, se alimentando de restos de comida com o período de validade vencido encontrados ali mesmo nos aterros.

Há pouco mais de um ano uma assistente da CAENGE (Empresa de Administração do Aterro Sanitário) solicitou a recepção do garoto na Associação Viver. A partir daí sua família também passou a ser atendida pelo Bolsa Família e pelo CRAS (Centro de Referência de Assistência Social). Segundo Jackeline, Rivaldo, que agora freqüenta a associação pela manhã e a escola no período da tarde, era extremamente tímido quando chegou à creche. “Não sabia brincar nem se relacionar com as outras crianças. Agora, adora futebol! É difícil separá-lo da bola”.

Infelizmente, casos menos felizes que o de Rivaldo continuam a acontecer. Wesley de Jesus Santos, de 13 anos, que também freqüentou a associação, atualmente trabalha esporadicamente no lixão, quando a mãe precisa. Nos finais de semana o garoto trabalha com seus irmãos como flanelinha, engraxate e vigia de carro na Feira dos Importados e do Cruzeiro. O dinheiro adquirido por final de semana, cerca de 25 reais, é divido entre o garoto e a mãe. “Trabalho pela minha independência. Quero comprar uma bicicleta”, afirma Wesley.

Segundo a Assistente de Coordenação Pedagógica, a volta de algumas crianças ao mundo do trabalho se dá devido a idade mais adulta com que chegam ao local. “As crianças quando retiradas novas do trabalho se adaptam melhor à nova vida, enquanto as mais velhas não, porque esse é o único referencial que elas possuem - o de que não é importante estudar e sim trabalhar para ganharem seu dinheiro.”

O que é preciso é que sociedade e governo se unam para solucionar de vez a questão do trabalho infantil. O trabalho de crianças reproduz e aprofunda a desigualdade social na medida em que prejudica o desenvolvimento físico, psicológico, intelectual e social na infância. Criança que trabalha não estuda bem, não brinca o suficiente e não se prepara para a vida. É preciso que haja uma conscientização profunda sobre a maneira que a nossa sociedade encara este problema. Trabalho infantil não é solução, é problema para a criança e para a o país.

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